Richard Batista Silveira


AS POTENCIALIDADES DO USO DE BLOG EM SALA DE AULA



A tecnologia vem dominando diversos setores da sociedade, as informações e o conhecimento vêm circulando em velocidade cada vez maior, Aranha afirma que as mudanças sempre aconteceram, acontecem e sempre acontecerão, pois, como afirmou Hegel: “vivemos em uma constante dialética do ir e do vir a ser, assim, as mudanças fazem parte da humanidade, e por consequência da sociedade” (ARANHA, 1993). Vani Moreira Kenski (2012) afirma que “[...] a expressão “tecnologia” diz respeito a muitas outras coisas além das máquinas. O conceito tecnologia engloba a totalidade de coisas que a engenhosidade do cérebro humano conseguiu criar em todas as épocas, suas formas de uso, suas aplicações”. O conceito de tecnologia compreende tudo que é construído pelo homem a partir da utilização de diversos recursos naturais, tornando-se um meio pelo qual se realizam atividades com objetivo de criar ferramentas instrumentais e simbólicas, para transpor barreiras impostas pela natureza, estabelecer uma vantagem, diferenciar-se dos demais seres irracionais.

Não é difícil vermos pessoas resolvendo problemas burocráticos, movimentando contas bancárias e solicitando diversos tipos de serviços (desde alimentos a transportes) sem precisar esperar horas em filas, essa dinâmica é repetida nas trocas de mensagens com pessoas de diversos lugares do mundo de forma instantânea. Kenski afirma que praticamente não notamos a tecnologia que nos circundam, pois “alguns invadem nosso corpo, como próteses, alimentos e medicamentos. Óculos, dentaduras, comidas e bebidas industrializadas, vitaminas e outros medicamentos são produtos resultantes de sofisticadas tecnologias” (KENSKI, 2003, p.19).

Dentro desse contexto não é de se espantar que os ambientes escolares sigam esse fluxo. Por mais que uma parcela dos educadores relute em pensar dessa forma, as diversas tecnologias fazer parte do cotidiano escolar há muito tempo por meio do quadro-negro, do giz, do lápis, da caneta, dos livros, dos cadernos, dos textos escritos, até os mais recentes, como por exemplo, a televisão, o rádio, os aparelhos de DVD, os computadores, o data show, a internet, a louça digital, entres outros.  Sendo assim as escolas precisam se integrar no processo de desenvolvimento tecnológico, como afirma Silva (2003):

“Se a escola não inclui a Internet na educação das novas gerações, ela está na contramão da história, alheia ao espírito do tempo e, criminosamente, produzindo exclusão social ou exclusão da cibercultura.” (Silva, 2003, p.63)

Avançamos muito e as práticas tradicionais da escola que se baseavam na transmissão de conhecimentos em uma estrutura em que o professor era o detentor do conhecimento e o aluno um mero receptor já não são mais adequadas ao nosso cenário sociocultural. Sendo assim a inserção das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) em sala de aula podem fomentar novas formas de construção de conhecimentos, haja vista que estas apresentam interfaces mais dinâmicas e flexíveis. Daí emerge um dos maiores desafios da educação na contemporaneidade: colocar-se como um espaço crítico em relação à apropriação e o uso das TICs.

Pedro Demo (2009) em suas duas publicações Educação hoje e Desafios modernos da educação afirma que, a escola como formadora de cidadão críticos, conscientes, autônomos e participativos exerce importante papel na sociedade. Dessa forma, não basta a disponibilidade de TICs na instituição escolar, os professores devem lançar mão dessas ferramentas a fim de promover didáticas de ensino inovadoras, para que essas possam contribuir na transformação das formas de ensinar, aprender e construir novos conhecimentos.

Essas novas formas de pensar, ensinar e aprender não se processará apenas no fato de dispor de uma gama de instrumentos modernos de comunicação, é preciso que dentro desse contexto haja competência para transformar as informações em conhecimento. E a educação é a chave para que se processe essa transformação, segundo Freire (2002):

“O conhecimento (...) exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o “como” de seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato. ” (FREIRE, 2002, p. 27)

Nessa perspectiva, o autor Luiz Carlos Pais (2005), sinaliza que existem quatro competências que devem ser levadas em consideração. São elas: a criatividade, o trabalho com informações, a capacidade de transformar informações em conhecimentos, e superação do exercício da repetição. Dentro desse contexto que aponta para diversas mudanças no paradigma do modelo formal de educação, está inserida uma plataforma digital que pode ser facilmente introduzida no ambiente educacional, o Weblog. Segundo Araújo (2009) a nomenclatura weblog: [...]foi cunhada em dezembro de 1997 pelo norte americano Jorn Barger. Blog, como também é chamado, é um tipo de publicação online que teve sua origem no hábito de logar (entrar, conectar ou gravar) à web, fazer anotações, transcrever, comentar os caminhos percorridos pelos espaços virtuais. Por isso mesmo, os weblogs são denominados como “diários virtuais” onde as pessoas escrevem sobre diversos assuntos de interesse pessoal, onde são expressas ideias e sentimentos do autor ou profissional. (ARAUJO, 2009 p.51)

 O Weblog no âmbito educacional é chamado de EduBlog, o Weblog ou simplesmente Blog, termo que advém de Web, que significa rede e log que significa gravar como em um diário de bordo, originalmente os blogs surgiram com uma proposta de ser um ambiente virtual onde as pessoas poderiam registrar acontecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o mundo, num espaço que poderia ser compartilhado com diversos outros indivíduos. De acordo com Santos (2003), o blog consiste “em uma espécie de registro virtual de tudo que acontece de interessante na vida de um sujeito. Seu conteúdo dependerá dos interesses de seus autores. A intenção é dividir, ou como é atualmente expresso, compartilhar com os outros aquilo que se pensa sobre um assunto preferido. (SANTOS, 2003, p.530)

O site Igov, por sua vez, afirma que o Blog é:  “(...) uma página da web que permite a usuários disponibilizar de forma rápida e fácil conteúdo na internet.” Qualquer pessoa pode criar um blog e postar conteúdo. As postagens ficam organizadas em ordem cronológica, das mais recentes para as mais antigas. O blog contribui para a democratização da publicação de conteúdo na web.

Segundo Mantovani (2006), o Blog é um tipo de plataforma que permite publicações online relativamente recente, comparado a outras plataformas, e vem ganhando bastante espaço. Os Blogs para Mantovani (2006) se apresentam como uma página da web que pode ser atualizada com mais frequência, e em sua estrutura o autor pode inserir em seus posts pequenos parágrafos apresentados de forma cronológica, como uma página de notícias em um jornal.

Os blogs foram incialmente concebidos para serem utilizados como Frequently Asked Questions (FAQ), em português literário: “Perguntas mais frequentes”, onde os indivíduos poderiam relatar tudo àquilo que achasse interessante para a rede mundial de computadores. A moda de utilização dos blogs se acirrou em 1999, quando diversos blogueiros começaram a construir suas páginas de política, humor, diário virtual e outros de mais variados temas, mesmo sem muito conhecimento em linguagem de programação e designer, os blogueiros passaram a se sentir importantes com seus blogs.

Em ambiente escolar o uso do blog pode ampliar em diversos aspectos as possibilidades de estudo e discussão de um determinado tema/conteúdo, uma vez que dentro dessa ferramenta, as publicações podem ser lidas e escritas por qualquer pessoa que esteja cadastrada e tenha acesso aos dados de login do blog, e de forma mais dinâmica a interação pode se efetivar através de comentários que podem ser abertos ou não, em que a palavra do autor pode ser a ponte para a palavra do leitor comentarista, que participa do diálogo porque a mensagem está aberta a intervenção do outro. Como afirma Freire (2002), sem comunicação é impossível se processar o conhecimento, e o que pode caracterizar a comunicação é justamente o diálogo, a interação entre indivíduos:

“Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serres consumidas pelos permutantes. ” (FREIRE, 2005, p.91)

Essa possibilidade de interação e de cooperação converge com a teoria de Levy (2003) a qual afirma que as formas de organização da nova sociedade serão o aprendizado cooperativo e a inteligência coletiva, definida por ele como: “[...] a capacidade de trocar ideias, compartilhar informações e interesses comuns, criando comunidades e estimulando conexões. ” (Levy, 2003, p.31) Vygotsky (1988) por sua vez afirma que essa colaboração entre alunos ajuda a desenvolver estratégias e habilidades gerais de soluções de problemas pelo processo cognitivo implícito na interação e na comunicação.

Dentro dessa dinâmica de cooperativismo propiciada dentro dos Blogs, Silva (2006) afirma que o emissor é potencialmente um receptor e o receptor é potencialmente um emissor. Os dois polos se comunicam, criando uma comunicação de mão dupla, uma troca de informação complementada por um cruzamento de posições. Sendo assim, podemos considerar o blog como um ambiente interativo que permite a imersão dos sujeitos não como observadores passivos, mas como participantes ativos no processo de comunicação. O blog se apresenta como um ambiente pedagógico que pode contribuir com os alunos nas atividades de pesquisa, seleção, análise e dissertação acerca de determinado tema, para por fim publicá-lo, levando-se ainda em consideração todas potencialidades educacionais imbricadas em cada uma dessas fases. Tem como diferencial a mais, o despertar do interesse dos alunos por determinado tema, superação da timidez ao expor seus pontos de vista e de desenvolver a colaboração, e seu senso crítico a luz do construtivismo:

“No construtivismo, o conhecimento é (re) construído pelo indivíduo nas interações com o ambiente externo. O aluno é o sujeito ativo no processo de aprendizagem, por meio da experimentação, da pesquisa em grupo, do estímulo à dúvida e ao desenvolvimento do raciocínio. Os conceitos são formados no contato com o mundo e com outras pessoas. O professor assume o papel de provocador e estimulador de novas experiências e deve ser capaz de propor estratégias ou caminhos para buscar respostas. ” (Campos et al. 2003, apud KASSIS, 2007, p.5)

O trabalho com o Blog como um instrumento mediador no processo de ensino aprendizagem, pode nos levar a diversas situações favoráveis dentro da dinâmica de explorar os ambientes virtuais de construção de conhecimentos, porém, ele vai exigir competências que estão inerentes  ao processo de avanço tecnológico, lançando ao educador uma série de desafios que podem alterar suas condições de trabalho docente, bem como as atividades realizadas pelos alunos, uma vez que o Blog apresenta um mundo totalmente novo, de links que ligam um conteúdo a outros, o que  favorece a construção de conhecimentos múltiplos. Segundo Marinho (2009 apud Richardson 2006), existem vários motivos pelos quais os blogs se constituem em uma ferramenta de utilização interessante.

Com relação aos benefícios da utilização do Blog na escola, o autor apresenta os seguintes argumentos: É uma ferramenta construtivista de aprendizagem; Há uma audiência potencial para o blog, que ultrapassa os limites da escola, permitindo que aquilo que os alunos produzem de relevante vá muito além da sala de aula; Trata-se de recurso que suporta arquivos de aprendizagem que alunos e até professores construíram; É ferramenta democrática que suporta vários estilos de escrita;  Pode favorecer o desenvolvimento da competência em determinados tópicos quando os alunos focam leitura e escrita em um tema.

Também segundo, Marinho (2009 apud Von Staa, 2005) existem sete motivos para um professor criar um blog: 1º é divertido; 2º o aproxima dos seus alunos; 3º permite refletir sobre suas próprias colocações; 4º conecta-o com o mundo em que vive; 5º amplia a aula; 6º enseja a troca de experiências com colegas de profissão; 7º dá visibilidade ao seu trabalho.

Essa dinâmica redefine o papel do professor em sala de aula, ele já não pode mais ser visto como o detentor de conhecimentos que tem por obrigação transmiti-lo a seus alunos, mas um mediador que encara seus alunos não como receptáculos de informações, mas como uma equipe de trabalho que deve vencer desafios propostos pelo novo modelo de educação que vem sendo apresentado diariamente, e que exige uma adaptação de todos os personagens envolvidos com o campo da educação.

Referências
Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 2.ed.rev.atual. São Paulo: Moderna, 1993. 395 p.
ARAÚJO, Michele Menghetti Ugulino de. Potencialidades do uso do blog em educação. Natal, 2009. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br:8080/jspui/handle/123456789/14350. Acesso em: 28 jan. 2020.
DEMO, P. Desafios modernos da educação. Petropolis, RJ: Vozes, 2009.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Tradução: Rosisca Darcy de Oliveira. 12. Ed. Rio Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
IGOV EXPLICA. Blog passo a passo. Disponível: <https://igovexplica.wiki.zoho.com/Blog-passo-a-passo.html>. Acesso em: 17/10/2014
KASSIS, A. Os blogs em processos de aprendizagem cooperativa e avaliação formativa. Juiz de Fora-MG, 2007.66p. Monografia Curso de Especialização em Gestão de Educação a Distância. Universidade Federal de Juiz de Fora. Disponível em: http://todosonline.com.br/ead/file.php/11/Blogosfera/Monografia-GEAD-UFJF-A A. Kassis.pdf. Acesso em 5 set. 2019.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 6. Ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.
KENSKI, V. M. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação. 8ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.
LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2003.
MANTOVANI, A. M. Blogs na educação: construindo novos espaços de autoria na prática pedagógica. Prisma, n. 3, p. 327-349, Portugal, outubro de 2006.
MARINHO, Simão Pedro P. et al. Oportunidades e possibilidades para a inserção de interfaces da web 2.0 no currículo da escola em tempos de convergências de mídia. Revista e-Curriculum, PUCSP-SP, Volume 4, número 2, junho 2009. Disponível em http:// . Acesso em: 24/05/2014
PAIS, Luiz Carlos. Educação escolar e as tecnologias da informática. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. O lúdico na formação do educador. 5 ed. Vozes, Petrópolis, 2003. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1988.
SILVA, Marco. Sala de aula interativa. 4.ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2006.

6 comentários:

  1. Olá comunicador, diante desse cenário onde as tecnologias da comunicação estão em pleno vigor, poderiamos dizer que o blog poderia substituir os livros didáticos?

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  2. Saudações caro participante, infelizmente sua publicação veio anônima, enfim, o blog não tem por objetivo a substituição do livro didático, até por que as editoras possuem suas próprias interfaces de livros digitais, sendo assim, em um pensamento bem minimalista, se formos pensar na substituição do livro didático de papel por um instrumento digital, inicialmente seriam as plataformas de livros digitais de cada editora, o blog por sua vez, é mais um instrumento de auxilio para professores e alunos, que por ora, não tem pretensões de substituir ou sobrepor outras ferramentas.

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  3. Excelente abordagem.
    Gostaria de saber como o professor pode despertar a consciência dos alunos para enxergar as potencialidades educacionais do blog? No caso, fazer reconhecer a pesquisa, o estudo e a publicação no blog como algo que agrega conhecimento. Fugindo da sintetização, geralmente feita para uma atividade/trabalho, para a elaboração de uma produção crítica e de ampla investigação. É evidente que os meios tecnológicos são vistos pelos educandos como uma ferramenta de acesso ao conhecimento, mas como seria possível mostrar que eles também podem produzir esse conhecimento?

    Parabéns pela pesquisa desenvolvida.
    Rafaela Silva dos Santos.

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    1. Saudações Rafaela, o professor precisa ter plena propriedade do que pretende fazer a partir do momento que cria um blog, os alunos precisam estar ciente de qual será sua parcela de participação e sua obrigações dentro desse ambiente, organizar as publicações, conferir as informações e buscar sempre inovacões que possam tornar essa ferramenta mais acessível e interessantes, o professor pode suscitar a curiosidade tecnológica dos alunos, instruindo-os a melhorar suas práticas de pesquisas para produzir um melhor conteúdo para suas plataformas. O crescimento do blog (da criação) é o crescimento dos alunos, mostrando assim que o trabalho está fluindo bem.

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  4. Boa tarde, Richard! Parabéns pela dinâmica e praticidade do artigo. Realmente muito bom. Gostaria de saber se você acredita que o blog pode ser facilmente aplicado no Ens. Médio, se comparado ao Ens. Fundamental? Teria um/a ano/série em que o blog seria, a partir deste ano/série, viável a ser aplicado?
    Juliana Dias Lima

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  5. Saudações Juliana, o blog pode ser uma excelente ferramenta para as turmas de ensino médio, principalmente para proporcionar a esses estudantes uma dinâmica mais interessante de construção de conhecimentos, a turma já é mais desenvolvida e potencialmente o trabalho do professor em auxiliar nesse trabalho seja bem menor, porém acredito que a partir do 6º ano do ensino fundamental II, por serem pré-adolescentes e estarem se inserindo mais profundamente no universo dos recursos tecnológicos, os alunos já podem e devem ser apresentados a essa ferramente, principalmente para suscitar sua curiosidade de como funciona esse universo do blog até mesmo buscar novas alternativas para aumentar a melhorar o alcance das informações postadas ali.

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