Rafael Amaral e Jheniffer Souza


RACIONAIS MC'S E A HISTÓRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIAS INICIAIS NO ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO RAP



As músicas são capazes de representar um aspecto determinado da realidade, e com a capacidade de propagação que carregam, possibilitam que esse mesmo aspecto seja identificado por outras pessoas. É evidente como as músicas, que são um dos elementos culturais mais recorrentes e presentes na sociedade brasileira, são usadas como ferramentas para expressarem as mazelas sociais, principalmente em gêneros musicais como o rap. E com essa característica, as músicas podem ser pensadas enquanto ferramentas de ensino que incitem a visão crítica e que estabeleçam um contato com o cotidiano dos alunos. O rap é um elemento musical oriundo do movimento hip-hop, podendo ser visto como parte da estruturação de uma cultura própria em meio aos problemas sociais vivenciados pela população marginalizada das periferias. O grupo Racionais mc's, de reconhecimento notável no cenário musical nacional, produzem músicas do gênero rap. Por meio delas buscam transparecer, em seus versos poéticos, um discurso sobre o cotidiano que faz parte de suas vidas e de outros que compartilham das mesmas experiências socioeconômicas.

“A música tem sido, ao menos em boa parte do século XX, a tradutora dos nossos dilemas nacionais e veículo de nossas utopias sociais [...] arrisco dizer que o Brasil, sem dúvida uma das grandes usinas sonoras do planeta, é um lugar privilegiado não apenas para ouvir música, mas também para pensara música” [NAPOLITANO, 2002, p.5]

Pensando a importância que deve ser atribuída à música enquanto elemento cultural e de manifestação política, objetiva-se refletir as maneiras alternativas para se trabalhar o ensino de história com o seu auxílio. Principalmente através do rap, que tem historicamente uma característica de denúncia social. Acredita-se que o rap é capaz de suscitar debates acerca de racismo, desigualdade social e até mesmo o crime como uma alternativa de ascensão econômica de jovens desamparados socialmente, características presentes em músicas como as dos Racionais.

Frequentemente de forma equivocada e errônea o rap é identificado e compreendido como um gênero musical que incita a violência, com músicas que fazem apologia ao crime, ao consumo de drogas, etc. Porém este equívoco, trata-se de uma generalização oriunda do preconceito que o gênero sofre, principalmente por ser uma forma de manifestação culturalmente marginalizada. Essa marginalização enquanto gênero musical, consequentemente o desqualifica enquanto uma possível ferramenta auxiliadora do ensino em práticas educacionais. Mas atualmente vivencia-se uma valoração maior do gênero, e até mesmo sua utilização em ambientes educacionais. A música vem se situando enquanto uma ferramenta que auxilia de forma considerável o ensino de história, mesmo sendo ainda algo pouco explorado em sala de aula.

Acreditando-se que o uso do gênero musical em sala de aula pode acarretar em resultados positivos, devido a aproximação que algumas letras carregam com a estrutura social na qual os alunos estão inseridos. Relata-se no presente trabalho, algumas observações e resultados preliminares obtidos através de minicursos realizados em escolas da rede pública da cidade de Montes Claros - Minas Gerais, através do programa Biotemas. O Biotemas é um programa vinculado a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual de Montes Claros, que visa uma integração da universidade com a educação básica, abrindo espaço para que acadêmicos proponham minicursos para alunos do ensino fundamental e médio.

A construção e execução dos minicursos se pautaram na análise de duas músicas dos Racionais, a música “Eu sou 157” e a música “Negro Drama”, explorando a forte crítica social que há por trás de ambas. Violência, racismo, desigualdade social e até mesmo a criminalidade atrativa à jovens negros e de periferia devido à falta de oportunidades propiciadas pela sociedade, foram os pontos centrais presentes nas músicas e que conduziram todos os debates. A execução dos minicursos nos fez crer que uma compreensão da sociedade se faz necessária principalmente à jovens de escolas públicas, para que reconheçam suas posições diante do mundo, sendo indispensável que tenham um olhar crítico sobre a sociedade e que entendam o funcionamento das relações de poder que permeiam o Brasil.

Pensar uma música, é também pensar “quem a produziu?” e “para quem a produziu?”, para que possamos compreender quais as intencionalidades ela carrega. Para isso, deve-se levar em conta que as realidades nas quais são registrados os discursos que compõem as músicas dos Racionais, moldam a imagem que eles transmitem aos seus ouvintes.  E a imagem transmitida, na qual impera a desigualdade, o racismo, e a violência no Brasil, não está distante da realidade que são oriundos os alunos em condições de vulnerabilidade socioeconômica, especialmente na rede pública de ensino.

A professora Ana Silvia da Fonseca afirma em suas pesquisas sobre o rap e seus versos, que: "o discurso do rap [...] era e ainda é feito por jovens em sua maioria de periferia, afrodescendentes, pobres e pouco escolarizados" [FONSECA, 2011, p. 99]. É importante pensarmos o rap enquanto um gênero tradutor de dilemas sociais, principalmente por ser vinculado a pessoas que historicamente foram relegadas a periferia, para ressaltarmos que o rap carrega uma identidade própria e uma intencionalidade política, pois: "a partir da segunda metade dos anos 1990 é impossível não considerar o rap nacional como voz legítima de grande parte de nossos jovens. Jovens que, por sua vez, pouca ou nenhuma voz demonstravam até então" [FONSECA, 2011, p. 98]. Percebemos então, o rap enquanto um mecanismo que permite dar voz as minorias, e explorar essa característica no contexto escolar possibilita que os alunos se reconheçam enquanto pessoas que também possuem voz diante do mundo, e que devem se fazer ouvir.

Grupos como os Racionais mc'sbuscam dar voz as populações periféricas, traduzindo suas reivindicações por meio das músicas. O que faz com que outras pessoas, que se identifiquem com seus discursos, possam questionar o porquê das condições a que estão fadados. Com isso consideramos ser de suma importância o incentivo a metodologias de ensino que saibam aproveitar essas características presentes nas músicas, capazes de despertar a atenção dos alunos. No que diz respeito aos pontos que as músicas analisadas e o rap em geral buscam denunciar, nos minicursos foram gerados debates muito satisfatórios, onde ficou claro o interesse dos alunos no sentido de se identificarem com o discurso presente nas músicas. Notou-se como houve um reconhecimento de alguns alunos com os dilemas retratados nas músicas, principalmente no que concerne ao racismo e a desigualdade social. Principalmente pelo fato de as escolas em que aconteceram os minicursos serem situadas em locais que atendam alunos de zonas periféricas da cidade de Montes Claros.

Ressaltando a edição que ocorreu na escola do Centro Socioeducativo de Montes Claros, destinada a jovens inseridos de alguma forma na criminalidade, notou-se uma participação efetiva dos alunos ao se manifestarem no que diz respeito a suas inserções no mundo do crime, afirmando que por vezes se daria por falta de amparo social, econômico e educacional.

Assim sendo, as experiências que os minicursos possibilitaram causaram uma reflexão sobre metodologias para trabalhar o ensino da história através da música. Ressaltando a importância de formas alternativas que despertem a atenção e mais ainda que atendam a demanda dos alunos de compreenderem não só o passado, mas as consequências que o mesmo implica em suas vivências.  Atualmente nota-se que se fazem necessárias abordagens educacionais que atraiam a atenção dos alunos, o modelo de ensino de história que requer dos alunos apenas que decorem datas ou nomes importantes deve ser revisto. Deve-se levar em conta a importância das minorias ao longo do tempo, a história advinda das periferias deve ser ouvida, nem que seja através do rap.

É de suma importância ressaltar a relação que a música tem com a história, principalmente em ambientes escolares em que fontes historiográficas como as músicas não são tão exploradas. Propor metodologias de ensino que visem mostrar como as músicas e tudo que o ser humano produz são fontes que devem ser exploradas, resulta numa maior criticidade por parte dos alunos, para que haja uma percepção de que vários elementos do cotidiano que antes passavam despercebidos, carregam em si toda uma intencionalidade e em suas entrelinhas há sempre um discurso fortemente influenciado pelo local de fala. Uma música pode retratar muito mais a realidade de uma periferia, do que uma matéria jornalística por exemplo, pois quem está imerso naquele contexto social é capaz de retratá-lo com mais legitimidade. Compreende-se que entender como a sociedade e a história são compostas por discursos e interpretações de mundo muito particulares, devido à localização das pessoas em relações de poder distintas, possibilitou que os próprios alunos se entendessem como partes constituintes da sociedade e assumissem uma posição diante das interpretações possíveis acerca dela.
A música intitulada "Negro Drama" da autoria do grupo Racionais mc's, destacada por muitos jovens como um hino das periferias e favelas, relata a vida diária do dito negro drama, que é descrito com as características que muitos se identificam, pelos adjetivos que dizem respeito ao aspecto físico até as situações cotidianas. Fica notório a importância e relevância do rap no cenário musical quando se ouve trechos como o seguinte: "Desde o início por ouro e prata. Olha quem morre, então veja você quem mata. Recebe o mérito, a farda que pratica o mal. Me ver pobre, preso ou morto já é cultural" [RACIONAIS MC'S, 2002]. A interpretação mais possível para compreender o verso, seria a de que se trata de uma referência clara ao passado escravocrata colonial brasileiro, pois ao se remeter ao início e evidenciar a ganância por ouro e prata, entende-se facilmente a referência às injustiças movidas pela escravidão. A herança que a escravidão legou se reflete na contemporaneidade, através do racismo enraizado na sociedade brasileira. A música também faz alusão a violência policial, que sempre foi uma pauta presente nas reclamações das minorias sociais. Por fim, tem-se a descrição do descaso quanto a situação dos que se encontram na pobreza, presos ou morto.  Configurando a falta de empatia para com aqueles que são relegados a marginalidade através de uma construção que tornou a desigualdade e o racismo culturais no Brasil.

Cabe ainda ressaltar que a identificação dos alunos com os discursos presentes nas músicas se deu no sentido de que, a maior parte dos alunos participantes dos minicursos eram negros ou moradores de bairros periféricos e violentos. Ou seja, o debate gerado se situou de forma clara nas perspectivas e vivências sociais presenciadas e vividas por eles, enriquecendo ainda mais as discussões levantadas pela abordagem com intermédio das músicas. É necessário propiciar aos alunos uma visão crítica de tudo que os cercam para perceberem que até mesmo as músicas que são usadas para entretenimento, são fontes historiográficas ricas e que são elaboradas, como no caso das músicas abordadas, com intuito de gerar um efeito na sociedade por meio de seus discursos. Os debates provocativos e extremamente críticos às realidades sociais, ocasionaram a cooperação dos alunos participantes resultando numa participação e trocas de experiências promissora.

Nesse sentido de aproximar a história dos alunos, percebeu-se que ao levar para o ambiente escolar abordagens que não são ocasionadas frequentemente pelas aulas, como é o caso de se pensar as músicas como fontes, houve uma absorção proveitosa dos alunos no que diz respeito as discussões propostas. Como foi o caso de pensar o racismo através da música “negro drama”, mas levando em consideração quais seus desdobramentos ao longo da história. A música possibilita abordagens de forma mais lúdica, e em conjunto com as exposições tradicionais dos conteúdos, conquistam um sucesso mais efetivo, principalmente se questionamentos do tipo “porque essa música trata desse tema?” forem lançados criticamente.

Notou-se que há uma necessidade de procurar cada vez mais integrar novas abordagens de ensino que deem importância para fontes historiográficas como a música, para se quebrar com a ideia de que história é apenas o passado, evidenciando sua importância na sociedade em geral. Devido a possibilidade que as músicas possuem de ocasionar aos alunos a capacidade de a identificarem com suas realidades, levando sempre em conta o que motivou tal realidade se dar de maneira tão específica, os alunos tornam-se capazes de voltarem um olhar crítico para as realidades sociais e perceberem os discursos que compõem tal realidade e suas representações.

Referências
Rafael Amaral é graduando em História na Universidade Estadual de Montes Claros.
Jheniffer Souza é graduanda em História na Universidade Estadual de Montes Claros.
FONSECA, Ana Silvia. Versos violentamente pacíficos: rap no currículo escolar. 2011. 242 f. Dissertação (Mestrado em linguística aplicada) – Instituto de Estudos de Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
NAPOLITANO, Marcos. História & música: história cultural da música popular. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
RACIONAIS. Negro Drama. São Paulo: Cosa Nostra Fonográfica CD: 2002, 1 CD. 6 min e 36 seg.

18 comentários:

  1. Primeiramente, parabéns pelo texto.
    Realmente, o mundo moderno demanda novas abordagens, a fim de tornar o conhecimento prazeroso para o aluno. A ideia de vocês é muito interessante.
    Além de Negro Drama, vocês poderiam relatar outras experiências possíveis com músicas do racionais ou até mesmos outras bandas/cantores de rap?

    Adriano Versiani Pinto

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    1. Então Adriano, primariamente obrigado pela pergunta, é uma boa pergunta, creio que para desenvolver uma boa experiência e ensino através de uma música temos que ter em mente todo a questão teórica que deve vir para os alunos refletirem. Ja utilizamos da música "Eu sou 157" do Racionais mc's e também foi interessante utilizar dela pois nela conseguimos discutir não só discurso, local de fala e marginalização do que é oriundo das periferias mas também o papel dos alunos ao absorverem a música. Então concluindo, ao meu ver a música é importante para o processo mas não vai ter tanto efeito se a metodologia não for articulada de forma adequada... podemos considerar músicas como as do Racionais mc's, Criolo, Djonga, Emicida, Rincon Sapiência, RZO, Facção Central, Sabotage, Mv Bill e muitos outros que são potencialmente satisfatórios em questão de conteúdo de debate, como referências para possíveis experiências, contudo, se não houver um planejamento pensado em explorar o documento/fonte, de nada adiantará.
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      Rafael Victor Soares Amaral

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    2. Jheniffer Caroline Oliveira Souza22 de maio de 2020 às 22:33

      Obrigada pela pergunta Adriano! Como apontado pelo Rafael, aliada a uma teoria que reflita o papel social da música e seu poder de tradução de dilemas cotidianos, a diversidade de músicas que podem ser postas em debate é muito grande. Não só as músicas, dos Racionais ou outros raps, mas músicas de gêneros musicais como o samba, que teve um caráter historicamente marginalizado, podem promover experiências proveitosas em sala de aula.

      Atenciosamente, Jheniffer Caroline Oliveira Souza

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  2. Parabéns aos autores. O Rap proporciona o conhecimento social por meio de manifestações culturais, seja pelas temáticas trabalhadas em suas letras, ou pela própria realidade em que os autores estão inseridos. Cabe ressaltar também, que o Rap pode estar além de um gênero musical, sendo interpretado como um movimento social. Suas reivindicações são consequências de um tempo específico, com condições sociais e históricas que favoreceram essa germinação.

    Matheus dos Santos Martins

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    1. Agradeço as considerações Matheus, são muito pertinentes pra ressaltar como o Hip-hop em geral se tornou uma curtura subalterna que se originou de movimentos sociais, pensando até na participação importante do Movimento Black Panther dentro dos adeptos da cultura, contribuíndo ainda mais para o tom de protesto nos elementos que compõe o hip-hop, assim como o rap que sendo um deles representa ainda de maneira excepcional.

      Rafael Victor Soares Amaral

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  3. Primeiramente, quero parabenizar os autores pelo excelente texto.
    O Rap realmente é uma excelente ferramenta para se utilizar na sala de aula para abordar assuntos como o racismo, a violência, a discriminação e etc., pensando nisto e com base na leitura do texto de vocês, quero fazer duas perguntas.
    No ponto de vista pratico de vocês, além da discussão sobre racismo, desigualdade racial, e outras questões que são realizadas com a participação da turma em sala de aula, quais as outras atividades que podem ser feitas com os alunos(as) através do uso do gênero musical em questão?
    A segunda pergunta é, pensando um pouco sobres os alunos(as) das escolas situadas em zonas periféricas, como relatado por vocês, eles acolhem esse tipo de metodologia de uma forma gratificante, porém, vocês acham que utilizar esta mesma dinâmica em uma escola particular se obtém o mesmo resultado? Já que se tratando de uma escola particular, aonde o número de alunos brancos - que não vivem algo parecido com o que é retratado nas letras dos Racionais Mc's - é maior que de uma escola pública.

    Reuther Henning Machado

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    1. Agradeço pelas perguntas Reuther, são boas e a primeira está me fazendo pensar muito a respeito... pra ser sincero, por enquanto não consigo pensar em outra forma de uso para o rap em sala de aula. Mas acredito que para professorxs que se interessam em elaborar aulas com elementos que vão além de livros didáticos, é apenas questão de tempo para planejar uma aula que se beneficia desta participação cativante para os alunos.

      A respeito da segunda pergunta, considero até como uma das questões que quebraram o "conservadorismo" do rap nacional, especificamente quando o Emicida começou a cantar rap na rede Globo, pouco tempo depois do Mv Bill criticar pessoalmente a emissora no programa do Faustão, o que quero dizer com isso é que o Emicida conseguiu realizar uma ruptura neste sentido, no que colaborou ainda mais para que não só a periferia escutasse sua voz pois em rede nacional o publico que ouvia-o era mais amplo, claro que devemos considerar a participação do Mv Bill que certamente não agradou a Globo, porém o retorno do artista à emissora participado de quadros como dança dos famosos consolidou esta transformação, e também a participação do Emicida não só na Globo mas também em outras emissoras e grandes festivais de músicas afirmava ainda mais o que todos sabiam: os "brancos" também curtem rap. Além disso podemos ate buscar uma idéia (que não me recordo de quem) mas é pertinente para pensarmos nisso, que diz mais ou menos que o rap "já domina a periferia e circula nesses ambientes, todos que são delas tem conhecimento das bandeiras levantadas e causas defendidas, desse modo não haverá muito resultado se o discurso for direcionado aos mesmos que são marginalizados, porque quem mais deve ouvir a voz e os discursos da periferia são aqueles que dela não pertence, que nem sempre estão cientes da realidade das mazelas sociais". Eu diria que a sua pergunta se aplica muito bem, e se me chegar a oportunidade eu farei o mesma experiência em uma instituição de ensino particular. O pensamento que compartilhei acima não pode ser apenas efetivo para a música em teoria, pois tem que ser posto em prática com ferramentas de difusão do rap, sendo o ensino uma delas. E também verdade seja dita, o rap é um gênero música, cultura, movimento social e muito mais, que encanta uma vasta quantidade de pessoas de diferentes realidades, então confrontar questões não cotidianas de alunos do ensino particular é algo que deve ser mais comum e realizado, para aos poucos desconstruir a ideia de que "brancos" não gostam de rap, e se de fato não gostarem sempre problematizar o porquê dessa pergunta e de muitas outras perguntas.
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      Rafael Victor Soares Amaral

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  4. Boa tarde! Gostei muito do tema de trabalho de vocês e principalmente por utilizar o gênero rap para o ensino de História aos alunos do centro socioeducativo, parabéns!
    A minha pergunta é sobre o uso de outros gêneros musicais, vocês acreditam que a metodologia utilizada também possa abranger gêneros musicais como o samba e até mesmo o funk? Ambos gêneros que, junto do rap, foram/são marginalizados por debaterem questões sociais como o racismo, a pobreza e a discriminação das classes.

    Júlia Ribeiro Nicolodi

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    1. Boa Julia! Agradeço pela pergunta e fiquei feliz de você tê-la feito. E minha resposta é concerteza! Com funk e especialmente o funk ostentação podemos desenvolver com os alunos o porquê da ostentação e o que ela representa entre os adeptos do gênero, podemos discutir porque o status carrega tanta importância entre crianças, jovens e adultos; e além disso podemos até provocar os alunos para que reflitam o fenômeno do "rolezinho" que esta intimamente ligado ao funk desde a ostentação até ao preconceito que este fenomeno sofreu, problrmatizando o motivo do incomodo que se estabelecia em shoppings quando jovens da periferia combinavam de se encontrar em grandes grupos. Este exemplo do funk certamente pode nos provocar mais idéias para um ensino satisfatório e repleto de reflexões por meio das músicas. E assim como o funk o samba também pode estar disponível a ser explorado... Adoniran Barbosa me agrada muito neste sentido quando em suas músicas ele retrata o cotidiano daqueles que se alojavam em malocas e tinham elas destruídas por militares que tinham por dever expulsá-los destes lugares.
      Então acredito que sim, essa metodologia pode abranger outros generos e a experiência pode alcançar resultado satisfatório para todos em sala de aula!
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      Rafael Victor Soares Amaral

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  5. Queria primeiramente parabenizar os autores por ter deixado bastante claro a importância de usar um gênero musical tão marginalizado. Levando em conta que é bastante enfatizado no texto a importância que tem os alunos se identificarem com aquele discurso, e portanto, serem críticos, minha dúvida é sobre como usar o rap em uma escola particular, com alunos que em sua maioria são brancos e que não são pobres? Acredito que é uma forma importante de levá-los a questionar os seus privilégios, e como foi dito, de traduzir dilemas sociais, mas também acredito que o fato de não acontecer esse reconhecimento de si mesmo com aquele discurso, pode tornar mais difícil. Existem estudos semelhantes ao que ocorreu em Montes Claros em escolas particulares que vocês possam indicar?

    Ana Claudia Pereira Mota

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    1. Ana Claudia obrigado pela pergunta, então, sobre sua dúvida de como usar este gênero em escola particular dada a realidade diferentemente vivida por alunos em marioria brancos de classe média configurados como privilegiados, de fato é algo que dependendo da situação será difícil, até porque a política da meritocracia, negacionismo do preconceito racial e revisionismos anti-cientificos estão se transformando em construções cada vez mais sólidas pelo atual presidente que alia sua postua às classes elitizadas, classes que formam alunos em ensinos particulares que adotam o posicionamento de não tomar partido (questão que logicamente é em si adotar um partido/posicionamento). Então é provável que haja dificuldade entre alguns alunos de compreender por exemplo a importância de cotas em universidades públicas. Sobre indicação de estudos similares a este em Montes Claros só que em escolas particulares, creio que seja meio complicado de ser encontrado... fiz uma busca rápida e não encontrei de fato algo que se faz destes requisitos. Contudo posso sugerir que caso você queira realizar esta experiência em uma sala de aula de uma escola particular, pleneje ela como se fosse em escola pública e apresente aos alunos do mesmo modo, e caso eles não compreendam os discursos presentes nas letras, aí que entra o papel do professor que de fato será mais difícil a medida que o aluno se apresente ignorante perante ao relato dos artistas, questão que pode ser até desconstruida com a leitura da obra "Lugar de fala" da autora Djamila Ribeiro para que os alunos compreendam que todos temos lugar de fala mas que porém alguns tem mais prioridade em falar de assuntos de dizem respeito a certo grupo, e além disso para embasar um debate acerca da formação do lugar de fala você pode beber da fonte do Bourdieu no que tange o conceito de Habitus, a Jheniffer entende melhor sobre este autor, creio que ela possa te indicar uma leitura em específico, mas o próprio conceito se pauta na questão de formação de mossas opiniões, escolhas e interpretações... nisso creio que o primeiro passo pode ser dado para que os alunos do ensino particular entendam uma realidade diferente do que vivem, muitas vezes alguns irão taxar o rap como um genero violento e agressivo, assim como muitos taxam o funk como um gênero sexualizado e sem cultura, muitas vezes ambos identificados por serem gêneros de apologia a violência e à drogas... porém cabe ao profissional identificar a mensagem e transmitir ao seus alunos o que é de fato a angústia representada pelo artista, se baseando em autores que desenvolvem raciocínio similiar para proporcionar um entendimento científico sobre os conceitos em debate.
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      Rafael Victor Soares Amaral

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  6. Olá Jheniffer e Rafael, tudo bom? Primeiro deixo meus parabéns aqui pelo excelente trabalho, foi uma ótima leitura. Continuando, sigo paralelo no que tange a importância da música e seu rico valor historiográfico, elas possuem o poder de promover pontos positivos e pertinentes na sociedade através de suas linguagens. No entanto, é comum evidenciarmos olhares preconceituosos sobre o rap, principalmente, Racionais MC’s. Partindo desse pressuposto, este gênero musical divide opiniões. De um lado, existem aqueles que a compreendem como uma fonte de apologia ao crime, violência, etc., do outro lado, há muitos jovens que possuem uma maior adoração ao gênero, pois muitos se identificam dentro da letra, claro que este ultimo grupo é composto em sua maior totalidade por aqueles inseridos no ensino publico e provenientes de áreas pobres. Desta maneira, lhes pergunto: vocês acreditam que o rap possui maior aceitação em escolas públicas? Ou ela segue o mesmo caminho também na rede privada?

    Kleitson Emanuel da Silva.

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    1. Olá Kleitson, tudo bem sim e você? Primeiramente agradeço a você por esta pergunta. E já pensei nisso, tenho como opinião particular de que não podemos generalizar o gosto musical entre os alunos, ou até mesmo compará-los, porquê entendo que é bastante relativo o que a maioria gosta, claro que é indiscutível a identificação por parte dos alunos em escolas públicas pelas letras de rap e ainda mais se falarmos dos alunos de sistemas de ensino socioeducativo, a representação para ambos é gritante, e pensando também no ensino particular pode ser que haja alunos que esteja por dentro do mundo do hip-hop em geral, é muito relativo a popularidade e o gosto. Por isso entendo pra mim mesmo que de fato o rap é acolhido de modo caloroso em rede pública, mas também tenho para mim que o rap também faz muito sucesso em rede particular, ainda mais pela ascensão do trap como vertente que se desdobrou do rap com suas características que foram bem recebidas por todas as classes. Então minha resposta é que ter melhor aceitação em uma ou outra não é algo que necessariamente necessite de uma resposta, é muito relativo, e minha opinião irá se pautar mais na realidade da cena do rap e escolas de Montes Claros dando um caráter meramente particular chegando a ser ignorante, por isso digo que não tenho como responder esta pergunta dada a polarização entre ensino particular e público.
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      Rafael Victor Soares Amaral

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  7. Olá! Tudo bem com vcs?

    Nossa... Que texto incrível, e que trabalho maravilhoso que vcs desenvolveram com os jovens. Pq é impossível que eles não tenham saído dos encontros sem bagagens de conhecimento e quebra de barreiras em relação aos estudos. Bem como também deve ter sido pra vcs... Pq imagino que ter contato com "(...) o mundo [que] é diferente da ponte pra cá (...)" deve ter sido uma experiência impactante.
    Muito obrigada por compartilhar!

    Pensando na perspectiva da apropriação cultural, no desenvolvimento do trabalho de vcs com os jovens, foi possível observar o fenômeno do "nóis é isso ou aquilo, o que cê não dizia... Seu filho quer ser preto? Aaaaah... Que ironia!", se remetendo, aqui, a quem não antecede de uma realidade similar à trabalha na letra, mas que, por algum motivo, tenta se identificar a tal ponto de tentar a construção de uma identidade na linha daquela cantada?

    Desculpem a citação das letras (sou fã!).
    Abraço.
    Larissa Klosowski

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    1. Olá Larissa, tudo sim e com você? Agradeço aos elogios ao trabalho, e agradeço sua pergunta também, inclusive curti as referências haha! Agora te respondendo, acho que de fato não houve um fenômeno do tipo, o primeiro motivo é por dificilmente haver alunos brancos em sala de aula, quase que todas as salas de aula eram compostas por alunos negros, e como segundo motivo lembro que mesmo havendo alunos brancos em minoria quantitativa eles entendiam seu lugar de fala perante às discussões, mesmo a música passando a sensação de empoderamento que é contagiante, os alunos compreenderam naturalmente o que é ser branco, preto, privilegiado, marginalizado e tudo mais. Mesmo sendo comum, a apropriação cultural não foi algo que aconteceu durante nossa experiência, creio que a experiência que possibilitamos para os alunos pode contribuir para difundir o conhecimento do respeito ao local de fala, para diferenciar quem tem prioridade pra falar de determindados assuntos, mas que todos tem o direito de se pronunciar, do mesmo modo que todos podem consumir o que por fim acaba sendo também um produto, mas que saibam se identificar com suas respectivas realidades.
      Isso responde a sua pergunta?

      Rafael Victor Soares Amaral

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  8. Olá! Gostaria de parabenizar pela temática do texto, atualmente o rap tem sido uma manifestação artística crítica e que tem bastante adesão com os jovens. A minha pergunta é para saber qual foi a metodologia usada nos mini cursos e se houve alguma resistência por parte dos alunos?

    Att, Stella De Sousa Martins

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    1. Jheniffer Caroline Oliveira Souza22 de maio de 2020 às 22:54

      Boa noite Stella! Utilizamos uma metodologia que possibilitasse um debate advindo mais dos alunos do que de nós, buscamos intermediar e incitar a discussão. E devido as realizações do minicurso terem se dado em escolas "periféricas" não houve resistência dos alunos, principalmente por se identificarem com as músicas!
      Atenciosamente, Jheniffer Caroline Oliveira Souza

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  9. Olá Larissa, tudo sim e com você? Agradeço aos elogios ao trabalho, e agradeço sua pergunta também, inclusive curti as referências haha! Agora te respondendo, acho que de fato não houve um fenômeno do tipo, o primeiro motivo é por dificilmente haver alunos brancos em sala de aula, quase que todas as salas de aula eram compostas por alunos negros, e como segundo motivo lembro que mesmo havendo alunos brancos em minoria quantitativa eles entendiam seu lugar de fala perante às discussões, mesmo a música passando a sensação de empoderamento que é contagiante, os alunos compreenderam naturalmente o que é ser branco, preto, privilegiado, marginalizado e tudo mais. Mesmo sendo comum, a apropriação cultural não foi algo que aconteceu durante nossa experiência, creio que a experiência que possibilitamos para os alunos pode contribuir para difundir o conhecimento do respeito ao local de fala, para diferenciar quem tem prioridade pra falar de determindados assuntos, mas que todos tem o direito de se pronunciar, do mesmo modo que todos podem consumir o que por fim acaba sendo também um produto, mas que saibam se identificar com suas respectivas realidades.
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    Rafael Victor Soares Amaral

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