Mauro Henrique Miranda de Alcântara e Katiane da Silva


A HISTÓRIA A LA CARTE DO BRASIL PARALELO E O ENSINO DE HISTÓRIA: EXPLICANDO EM SALA DE AULA A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA HISTÓRICA



É muito comum os/as estudantes entrarem no Google para buscar conteúdos de História que estão aprendendo em sala de aula. Não é preciso nem mesmo recorrer a dados estatísticos para saber que esse caminho é recorrente entre os/as alunos/as de nível fundamental e médio, em momentos que antecedem uma avaliação e/ou, para fazerem pesquisas, prepararem conteúdos para os famosos seminários, entre outras tarefas. E, entre os acessos mais frequentes, o Youtube é o local que se destaca na busca de um conhecimento histórico fácil, rápido e atrativo. Para além do uso exclusivo por parte dos/as estudantes, os/as professores/as também fazem uso frequente desta plataforma, para trazer mais dinâmica para o seu conteúdo em sala de aula (QUEIROGA JÚNIOR, 2018).

Diante deste cenário, é impossível deixarmos de lado a importância desta mídia social-digital na aprendizagem histórica contemporânea. Tanto é que, é por meio desta plataforma que a empresa Brasil Paralelo, vem buscando disseminar o seu conteúdo de “revisionismo histórico” e tem conseguido resultado bastante significativo (ao menos se nos prendermos às milhões de visualizações dos seus conteúdos). Esta empresa se autodenomina como do ramo de comunicação. Segundo Dias (2019), ela busca apresentar uma perspectiva apolítica e sem ideologias em seus conteúdos, com o intuito, apenas de informar. Apesar desta descrição, ela apresenta como missão “resgatar o orgulho de ser brasileiro”, “devolver a história que nos foi renegada” e “reverter as mazelas que a nossa cultura sofreu os últimos anos” (DIAS, 2019, p. 3). 

Trata-se, na verdade, de uma empresa de caráter privado, com o intuito de promover o revisionismo histórico. E por divulgar e propagar seu conteúdo no Youtube, por meio de divulgação paga, um/a estudante, ao buscar nesta plataforma sobre um determinado assunto da História do Brasil, terá acesso, antecipadamente, ao conteúdo desta empresa. Isso impacta, diretamente, no conhecimento histórico que, tanto o/a estudante, quanto o/a professor levará para sala de aula.

Conhecendo essa problemática, a proposta deste trabalho é apresentar possíveis saídas para professores/as e alunos/as quanto os limites e a ideologia implicada nesta narrativa revisionista desta empresa privada, em torno de temas históricos. Vamos analisar, aqui, transcrição dos primeiros dez minutos do vídeo intitulado Brasil: a última cruzada. E mais especificadamente, o objeto de estudo será o capítulo 5 desta série, que aborda sobre o Segundo Reinado brasileiro. Antes de adentramos na análise, apresentaremos uma breve discussão sobre os usos das mídias sociais no Ensino de História, o avanço do “revisionismo histórico” nestas mídias e, os interesses (políticos e ideológicos) da empresa Brasil Paralelo.

O Youtube e o Ensino de História

O Youtube é, atualmente, a segunda maior mídia social-digital acessada no mundo. Perde apenas para o Facebookem número de visitantes. Segundo a We Are Social (2020), mais de 2 bilhões de pessoas acessam mensalmente esta plataforma.

No Brasil, esta mídia social é ainda mais importante: ela supera o Facebook em números, sendo a mais acessada no país. Mais de 95% usuários de internet no país acessam essa plataforma (IMME, 2020). Diante de tamanha capilaridade, precisamos compreender a importância deste meio de propagação do conhecimento histórico no ensino de história.

O Youtube é uma plataforma na qual “os usuários podem produzir e compartilhar vídeos com facilidade para que outras pessoas ao buscar sobre determinado assunto, de acordo com suas preferências, consigam pesquisar e assistir de qualquer lugar do mundo e em múltiplas línguas” (QUEIROGA JÚNIOR, 2018, p. 7-8). Apesar desse viés de ser uma plataforma social, na qual podem criar, compartilhar, curtir e visualizar, também se trata de um negócio, pois, propagandas são inseridas entre um vídeo e outro e, quanto mais visualizações um vídeo, mais capacidade de arrecadar recursos. Fora que, quando um canal consegue uma quantidade razoável de inscritos, poderá conseguir patrocinadores e fazer propaganda de produtos em seus conteúdos. Outra forma de capitalização desta plataforma, são os anúncios pagos. Quando os canais pagam para o Youtube para promoveram seus conteúdos, ficando, dessa maneira, em destaque os seus vídeos (caso da empresa Brasil Paralelo). E esse modelo de difusão da informação, é cada vez mais um “modelo de negócio” e menos uma ponte para o conhecimento e aprendizagem:

Tais dinâmicas estão inseridas em um modelo de negócios bilionário em que as principais receitas são provenientes das verbas de publicidade segmentada, tornada possível com o processamento dos dados que constantemente deixamos nos nossos dispositivos digitais. Os algoritmos são configurados para mostrar nossas preferências ideológicas, níveis de renda, hábitos de consumo e modos de vida. Assim, o acesso à informação, que deveria ser um direito relacionado ao exercício da cidadania, vai paulatinamente se estruturando em função de um consumidor, empoderando um cidadão consumidor (RODRIGUES, 2018, p. 160).
Essas plataformas estão construindo uma massa de consumidores. O espaço para o debate, para o diálogo e para o acesso democrático à informação e ao conhecimento é cada vez mais reduzido. Dessa forma, isso impacta diretamente as diretrizes e princípios do conhecimento histórico. Para termos dimensão do impacto desta mídia social no meio educação, pesquisas da própria Google (proprietária do Youtube), destaca esse cenário:


FONTE: Estudo Video Viewers (Google)

Por esses dados, podemos verificar que há um público que busca no Youtube conhecimento. Seja para coisas triviais, mas, também, para “entender o que acontece no mundo”. E convenhamos, é muito mais rápido e simples acessar, via smartphone, o Youtubee buscar qualquer assunto desejado, do que ir a uma biblioteca, esperar o programa com a temática que deseja (seja em TV aberta ou paga), ou, mesmo, fazer buscas criteriosas no Google. Diante disso, é inegável que precisamos entender e problematizar esse meio digital de aprender História, pois, cada vez mais, nossos/as estudantes formam o seu conhecimento através deles.

O Brasil Paralelo e o “revisionismo histórico” sem História
O professor Fernando Nicolazzi, da UFRGS, em texto publicado no periódico Sul 21, em 23 de março de 2019, faz uma análise do conteúdo produzido pelo Brasil Paralelo sobre a Ditadura Militar. Ele cita os seguintes trechos da obra consultada: “todo conteúdo gerado pela produtora não possuí qualquer viés político ou ideológico”, o livro, segundo a empresa, é “uma análise puramente historiográfica do Regime Militar no Brasil” (NICOLAZZI, 2019). O historiador fez um estudo criterioso do material intitulado “Entre mitos e verdades. A história do regime militar”, publicado pelo Brasil Paralelo. Nicolazzi, ao final de sua resenha, diz:

se a ideia de imparcialidade efetivamente não se aplica a esta produção, tampouco podemos supor tratar-se de uma “análise puramente historiográfica”, já que faltaria um tanto para que se pudesse ser definido como análise e outro tanto para que pudesse ser chamado plenamente de historiográfico (NICOLAZZI, 2019).

Ou seja, para o historiador, não há método e não há pesquisa historiográfica. As fontes são poucas e parcamente analisadas. Por isso, não podemos, nem mesmo, inferir que se trata de um trabalho histórico, ou como intitula a obra, historiográfico. Por fim, o professor diz: “trata-se de uma obra com claro viés político e ideológico, resultando paradoxalmente em algo que seus próprios autores e colaboradores condenam” (NICOLAZZI, 2019).

Roldão Pires Carvalho e Mara Rovida, em seu texto intitulado “Os movimentos milenaristas modernos – uma análise sobre o discurso da propaganda ideológica”, analisam enunciados do segundo capítulo da série “Brasil – a Última Cruzada”. Em suas considerações finais, dizem que essa obra deve ser “caracterizada como propaganda política, disfarçada de documentário sobre a História do Brasil. Tem como função deslegitimar a Historiografia Oficial, que supostamente foi construída por historiadores esquerdistas” (2018, p. 11). Mais à frente complementam sobre o viés do vídeo:

Tenta deslegitimar o historiador e grande parte da historiografia brasileira, também levanta o debate da questão da História Pública, como os historiadores podem popularizar o  conhecimento histórico de forma que não a descaracterize (CARVALHO; ROVIDA, 2018, p. 12).

Estas questões são muito importantes para o debate historiográfico contemporâneo. Primeiro: como a História Pública, ao popularizar o conhecimento histórico, precisa estar atenta à pesquisa histórica. Segundo: como tais disseminações de conteúdos da história, por mais que se vestem de um discurso imparcial e apolítico, no fundo, buscam a projeção de valores ideológicos de determinados grupos políticos.

André Dias, como citado acima, também analisou materiais produzidos pela empresa Brasil Paralelo, e concluiu que, os princípios da imparcialidade e sem viés ideológico é um discurso para vender os seus produtos, repletos de parcialidade e ideologia. Para este autor, há, nas narrativas dos produtos desta empresa, “uma série de intencionalidades intrínsecas ao próprio estatuto de ‘verdade’ que elas pretendem carregar” (DIAS, 2019, p. 3).
A discussão sobre conceitos de verdade e, até mesmo, o debate contemporâneo sobre a “pós-verdade” é necessário ser realizado, contudo, os limites e os objetivos deste texto nos impedem de adentrarmos nele. Todavia, é importante compreendermos o impacto dessas novas formas de produção e popularização do conhecimento. André Dias escreve que, com estas novas plataformas sociais-digitais, para um amplo público, a “história passa a ser ‘aquilo que aparece’ nas mídias”. Dessa forma, esses produtos vêm ganhando status de “autoridade” elevando “narrativamente seus fatos e acontecimentos à categoria de ‘históricos’” (2019, p. 4).

O revisionismo histórico, que é algo comum, importante e necessário na comunidade acadêmica, para a atualização e aprofundamento das questões do área, bem como, para buscar respostas para perguntas do presente, baseando-se em “evidências empíricas, cuidados teóricos metodológicos, lastreados em ampla bibliografia”, no campo das redes sociais, é, o que diz o professor Aldair Rodrigues, um “revisionismo populista”, “seletivo, interessado, ideologicamente simplificador, produzido e consumido de acordo com a propensão ideológica do seu produtor e do seu leitor”, uma história a ser consumida, “à la carte” (RODRIGUES, 2018, p. 162).

Não podemos reduzir o impacto destes revisionismos populistas. Eles cada vez mais, devido o impacto das mídias sociais digitais na vida contemporânea, estão inseridos nas discussões e no conhecimento histórico em parte significativa da sociedade. Esses conteúdos chegam aos alunos/as e professores/as por meio destas plataformas digitais, e, por vezes, são até mesmo utilizados como material para a disciplina da História. Conscientes da importância destes produtos e das redes sociais, seguiremos o conselho do professor Aldair Rodrigues, que, “talvez o melhor caminho seja a problematização dos elementos subjacentes ao teor dos discursos ‘revisionistas’, procurando entender os lugares por onde se difundem e quais os interesses que podem estar por trás da sua disseminação” (2018, p. 167).

Vamos analisar a transcrição da narrativa dos primeiros minutos do Capítulo 5 da série “Brasil – a Última Cruzada”, produzido pela empresa Brasil Paralelo. Este vídeo busca retratar o período do Segundo Reinado Brasileiro. Vamos transcrever os narradores e, abaixo, analisar a narrativa.

Uma história rica é uma história repleta de heróis
O vídeo que iremos analisar neste texto, foi postado no canal do Brasil Paralelo no dia 22 de março de 2018. Ele possui quase uma hora e vinte minutos de duração. Até o prezado momento mais de 500 mil pessoas já o visualizaram. Cerca de 37 mil pessoas o curtiram. Enquanto 397 não curtiram. Mais de 1,2 milhão de pessoas estão inscritas no canal da empresa. E na descrição deste vídeo, não há menção sobre o seu conteúdo e, sim, um texto no qual convida os espectadores a contribuírem com o projeto. Na chamada diz: “você precisa investir para ser um Membro Patriota do Brasil Paralelo”. Abaixo descreve todos os benefícios ao se tornar um contribuinte. Apresenta a possibilidade de ter acesso a conteúdos exclusivos e acesso a grupos do Facebook e Telegram (BRASIL PARALELO, 2018). Como podemos observar por esses dados iniciais, trata-se de uma empresa que, produz e posta vídeos de acesso aberto no Youtube, contudo, busca por meio deles, financiamento para suas atividades. O número de inscritos no canal é bastante expressivo, e o quantitativo de visualização do vídeo que analisaremos, também. Contudo, não há na descrição os objetivos do vídeo, fontes, participantes, produtores etc. A falta destas informações e, a inserção de conteúdos promocionais, demonstra o caráter comercial do produto, em detrimento do interesse acadêmico/investigativo.
Antes de iniciar a narrativa sobre o conteúdo proposto no vídeo, um narrador, do sexo masculino, loiro, de olhos claros, barba por fazer, de blazer, mas sem gravata, faz uma breve explanação sobre a empresa e o seu propósito:

Trecho 1: Por muito tempo ouvimos falar que o Brasil não tem história. Que não temos heróis, que não conhecemos, nem sequer, os nossos bisavós (BRASIL PARALELO, 2018).

Trecho 2: Essa série promete levar luz, aos grandes erros e acertos que nos formaram. Fazemos isso porque acreditamos que a única forma de transcender nossa própria experiência e superar, a realidade que nos é imposta, é descobrindo do que somos feitos, é conhecendo a experiência acumulada de nossos ancestrais (BRASIL PARALELO, 2018).

Trecho 3: Graças a sua confiança, milhares de pessoas despertam todos os dias como brasileiros. Reacender essa chama, é o primeiro passo para irmos em buscar da mudança. Mas não paramos por aqui, temos ainda um longo caminho para percorrer e 2018 é um ano decisivo (BRASIL PARALELO, 2018).

Trecho 4: Tornar-se membro é algo crucial, para que novas séries surjam e para que novos brasileiros despertem de falsas narrativas e sigam em busca de um país melhor. E hoje, junto desse próximo capítulo, lançamos uma condição especial para quem quer financiar essa mudança e fazer algo realmente efetivo pela educação, o conteúdo exclusivo da série Brasil, a última cruzada, está com valor promocional e por tempo limitado. Sendo a última oportunidade para adquirir as mais de 120 horas de conteúdo exclusivo e ganhar como bônus todas as gravações do webnário 2018. Venha ser parte ativa do Brasil Paralelo e seja bem-vindo ao protagonismo da mudança. E até breve (BRASIL PARALELO, 2018).

Essa apresentação nos traz elementos que nos ajuda a compreender os interesses e objetivos desta empresa. Partem do princípio no qual o Brasil não tem história. Ao trazer essa menção, e partir dela para justificar o seu empreendimento, compreendemos que eles estão abnegando os estudos históricos produzidos no Brasil há séculos. Outro ponto importante: a História que eles querem contar, não é contada. A sequência do trecho 1, deixa ainda mais claro quanto aos propósitos deste projeto. Partem da premissa que para se ter História, necessário se faz os heróis, sem eles, não há o que contar/narrar. E mais: a História é feita pela memória e não por estudos/investigação, pois, a ideia é lembrar para não esquecer, não necessariamente compreendê-la e explicá-la. Trata-se de uma história factual e cronológica.

No trecho 2 identificamos a proposta dicotômica da qual partem para fazer sua História. Trata-se do presente, e através da empresa Brasil Paralelo, uma espécie de tribunal da história. Dá-se a ideia de que colocarão na balança da justiça o que foi erro e o que foi acerto. A justificativa para partir desse princípio para narrar sobre a História, fica claro evidente neste trecho. A História é, para eles, este tribunal, mas, também, um banco, no qual acumula-se o passado. Ao acessá-lo, poderemos ter acesso aquilo que somos, visando a superação do que está posto. É uma história moralizante.
No trecho 3, percebemos o propósito político do projeto Brasil Paralelo. A ideia, como notório, é despertar os brasileiros. Querem reacender a chama, no caso, do patriotismo. Trata-se de um ideal patriótico. Portanto, há claramente um sentido político nesta forma de narrar a história. A frase 2018 é um ano decisivo, deixa ainda mais nítido o interesse político. Este foi um ano eleitoral, portanto, a forma de narrar essa história tem uma finalidade, e ela está diretamente relacionada com o resultado eleitoral de 2018, ou, na eleição presidencial.

E é possível ver no último trecho a história a la carte. Buscam vender o seu produto, como qualquer outra mercadoria. Há um apelo de ordem comercial no chamado. Apresentam a importância do conteúdo e os benefícios/ganhos que teriam aqueles que contribuírem para o projeto.

Assim que inicia a narrativa sobre o conteúdo do capítulo, identificamos a concepção da qual partem para narrar sobre a História do Segundo Reinado:
Nossa história monárquica é uma história rica. Rica. E não falo isso como uma espécie de ufanismo, porque não digo que tenha sido uma história perfeita. É rica porque nós conseguimos fabricar em profusão, grandes homens, grandes homens (BRASIL PARALELO, 2018).

Essa é a fala do narrador identificado como Thomas Giuliano, professor de História e Pesquisador. Percebe-se que, para ele, a riqueza da história do período está diretamente relacionada com a existência de grandes homens, confirmando o narrador inicial: a história se faz pelos heróis. Portanto, para a projeto do Brasil Paralelo, a história que precisa ser contada (e é negligenciada) é a história dos grandes homens, das grandes conquistas, uma história moralizante, factual e que prevê o julgamento do passado e a expectativa de superação para um futuro.

Considerações Finais
Para o historiador do século XIX, Seignobos, “sem documento não há história”. No século XX, o historiador da Escola dos Annales, Lucien Febvre, o provocou lhe dizendo “sem problema não há história” (BARROS, 2012, p. 310). No caso do material produzido pela empresa Brasil Paralelo, não há nem documento, nem problema. Há uma ausência de método da pesquisa. Referências teóricas e historiográfica, são os atores/narradores que narram a partir de suas leituras e visões da história. Não há uma operação historiográfica (CERTEAU, 1982), não há o questionamento para com o passado (FEBVRE, 2011), há, apenas, uma problemática com o presente e com determinadas instituições e sujeitos que pesquisa e escrevem a História, no caso, a academia e os historiadores. Quais são as fontes utilizadas? Quais perguntas fazem a este passado? Quais os objetivos do material? Por fim, quais métodos são utilizadas para transformar possíveis pesquisas em conhecimento histórico? Não há. Portanto, é possível, para um/a professor/a de História apresentar, a partir deste conteúdo, como a História não deve ser construída e divulgada. É uma ótima fonte para explicar, em sala de aula, que um pretencioso material histórico, não é de fato, História.

Biografia:
Mauro Henrique Miranda de Alcântara é Doutor em História pela Universidade Federal de Mato Grosso. Professor da mesma área no Instituto Federal de Rondônia, Campus Cacoal. Coordenador do projeto de pesquisa “Ensinar História na Era das Mídias Digitais”.
Katiane da Silva é Bolsista de iniciação científica de nível médio (IC-EM/IFRO), do projeto de pesquisa “Ensinar História na Era das Mídias Digitais”. Estudante do Curso Técnico em Agroecologia integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal de Rondônia, Campus Cacoal.

Fonte:
BRASIL PARALELO. Capítulo 5 – Último Reinado – Brasil – A Última Cruzada. 2018. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=J8hnQcNyoXU&t=7s>. Acesso em 15 abr. 2020.

Referências:
BARROS, J. A. Os Annales e a história-problema – considerações sobre a importância da noção “história-problema” para a identidade da Escola dos Annales. História: Debates e Tendências. v. 12, n. 2, jul.-dez. 2012, pp. 305-325.
CARVALHO, R. P.; ROVIDA, M. Os Movimentos Milenaristas Modernos – Uma análise Sobre o discurso da Propaganda Ideológica. XXIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Belo Horizonte, MG. jun. 2018.
CERTEAU, Michel. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
DIAS, André Bonsanto. Um Brasil (em) Paralelo: as “verdades” da ditadura e sua historicidade mediada como um empreendimento político. XII Encontro Nacional de História da Mídia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN. jun. 2019.
FEBVRE, L. Face ao Vento: manifesto dos novos Annales. In: NOVAIS, F.; SILVA, R. (Org.). Nova história em perspectiva. São Paulo: Cosac & Naify. p. 75-85
GOOGLE. Estudo Video Viewers: Press Event – Brandcast. 2020. Disponível em: < https://www.c3dweb.com.br/wp-content/uploads/2019/01/view>. Acesso em: 14 abr. 2020.
HOOTSUITE & WE ARE SOCIAL. Digital 2020 Global Digital Overview. Datareportal. 30 jan. 2020. <Disponível em: https://datareportal.com/reports/digital-2020-global-digital-overview>. Acesso em 08 abr. 2020.
IMME, A. Ranking das redes sociais: as mais usadas no Brasil e no mundo, insights e materiais gratuitos. Resultados Digitais. Florianópolis, 21 jan. 2020. Disponível em: < https://resultadosdigitais.com.br/blog/redes-sociais-mais-usadas-no-brasil/>. Acesso em 08 abr. 2020.
NICOLAZZI, F. A história da ditadura contada pelo Brasil Paralelo. Sul 21. Porto Alegre, 23 mar. 2019. Disponível em: < https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2019/03/a-historia-da-ditadura-contada-pelo-brasil-paralelo-por-fernando-nicolazzi/>. Acesso em 14 abr. 2020.
QUEIROGA JÚNIOR, T. M. Youtube como plataforma para o Ensino de História: na era dos “professores-youtubers”. Trabalho de Conclusão de Curso. Foz do Iguaçu. Universidade Federal da Integração Latino-americana. 2018. 28 p.
RODRIGUES, Aldair. O ensino de História na era digital: potencialidades e desafios. In: LINS, Isadora; DURÃO, Susana. Pensar com Método. Rio de Janeiro, 2018. pp.145–175.


16 comentários:

  1. Olá Mauro e Katiane,
    Bem interessante o trabalho de vocês, mas tem um ponto que gostaria de discutir: logo no começo vocês colocam "É muito comum os/as estudantes entrarem no Google para buscar conteúdos de História que estão aprendendo em sala de aula. Não é preciso nem mesmo recorrer a dados estatísticos para saber que esse caminho é recorrente entre os/as alunos/as de nível fundamental e médio, em momentos que antecedem uma avaliação e/ou, para fazerem pesquisas, prepararem conteúdos para os famosos seminários, entre outras tarefas." De fato, essa realidade é inegável, mas daí a dizer que dados estatísticos são desnecessários vai um caminho longo, não acham? Essas estatísticas não ajudariam a dimensionar o problema?

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    1. Prezado José Maria,
      Agradeço muitíssimo sua indagação.
      Talvez tenhamos exagerados na colocação. A ideia não é menosprezar a os dados estatísticos, e sim, explicitar um fato. Todavia, compartilhamos de sua colocação: os dados estatísticos são de suma importância para analisarmos os impactos das redes e mídias sociais na sociedade e, em particular, na educação.
      Entretanto, buscamos neste trabalho (que é o resultado inicial, muito inicial na verdade de um projeto de pesquisa-extensão que estamos desenvolvendo) realizar uma análise da narrativa.
      Espero que possa ter respondido ao seu questionamento.

      Mais uma vez, obrigado pelo questionamento.

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    3. Olá José Maria,
      Posso dizer que sua colocação é importante, pois fatos são provados com estatísticas propícias ao contexto, dando relevância e mostrando a veracidade, ficaremos ligados na próxima vez, é um começo de um projeto, e sua opinião foi de grande valia.

      Muito obrigada.
      Encarecidamente, Katiane Silva.

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  2. Prezados Mauro e Katiane,
    Gostaria, primeiramente, de parabenizá-los pela iniciativa de trabalho com o tema em questão. Na atual conjuntura é imprescindível que questionemos essas formas de olhar o passado que vem, cada vez mais, se popularizando.
    O meu questionamento parte justamente da popularidade desse tipo de material. Basta lembrarmos que o documentário dessa empresa, sobre a ditadura militar, lançado em 2019, tem mais de 7 milhões de visualizações.
    Cito também o livro Guia politicamente Incorreto da História do Brasil, que o próprio autor assumiu, em entrevista, o caráter ideológico do seu trabalho. No entanto, a sua popularidade é tão grande que inspirou série televisiva além de possivelmente ser utilizado também como material de apoio em sala de aula e, pior, como material para questionar o professor. Em suma, sendo admitido por muitos leitores/espectadores como um genuíno trabalho historiográfico.
    Nesse sentido, gostaria de perguntar sobre a possibilidade de trabalho em sala de aula em um sentido inverso ao proposto no texto. Não seria o caso de aproximar os/as estudantes dos métodos de pesquisa histórica para que, fora do ambiente escolar e em contato com produções como as citadas, eles/as tenham um repertório mínimo para ter um olhar crítico diante desses materiais?

    Att,
    Elis Saraiva Santana

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    3. Querida Elis Saraiva,
      Muito agradecida por sua colocação, saiba que toda opinião é de grande importância, o projeto que estamos iniciando é basicamente o que está sugerindo, pois pretendemos analisar e questionar as obras do Brasil paralelo, com intuito de passar em sala de aula a relevância de aprofundar os conceitos e estudos e não somente se contentar com o prático e fácil, mas buscar o conhecimento histórico científico. Desta forma os alunos poderão contribuir com seu próprio conhecimento e exercendo a arte da dúvida.

      Atenciosamente, Katiane Silva.

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    4. Prezada Elis,
      Antes de tudo, agradeço a leitura do texto, a sua argumentação e questionamento. Precisamos, acredito, cada vez mais debater sobre o lugar público da História.
      Sua pergunta é muito pertinente. Esse trabalho é um resultado parcial de um dos projetos que estamos desenvolvendo, justamente, pra tentar contribuir com esse debate.
      Acredito que é possível trabalhar das duas maneiras em sala de aula, ou seja, desconstruindo pseudos conteúdos históricos (como propomos), ou, partindo da análise de material histórico. Todavia nos dois casos, é importante nos amparamos a metodologia e problemáticas da e na História.
      A ideia de partir da desconstrução destes conteúdos midiáticos é apresentar a história como um problema e como conhecimento científico também, pois, se não tem amparo teórico-metodológico, e fundamentação documental, é uma farsa. Enfim, são caminhos que temos que ir tentando construir.

      Um abraço,

      Mauro Henrique Miranda de Alcântara

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  3. Colegas, parabenizo-os pela iniciativa. Achei excelentes os excertos que contribuem para uma análise crítica geral dessa série de vídeos. No entanto, gostaria de indagar-lhes a respeito de possibilidades práticas de utilização em sala de aula, com fontes para argumentação contrária.

    Pesquisando há tempos atrás a respeito do "Guia politicamente incorreto", encontrei este excelente vídeo do Leitura ObrigaHISTÓRIA: https://www.youtube.com/watch?v=tSMyb2ygxXw&feature=youtu.be&fbclid=IwAR1KTsbe4eDYNqSAj6_F9I7uqKWXV326JFRZASb7oZbM3Mzfo6l5e4OIlUw

    E estes artigos:
    https://hhmagazine.com.br/o-incorreto-no-guia-politicamente-incorreto-da-historia-do-brasil/
    https://www.cartacapital.com.br/cultura/um-guia-para-o-guia-politicamente-incorreto-da-historia-do-brasil/

    Conhecem iniciativas nesse sentido que nos auxiliem na crítica à série de vídeos do "Brasil Paralelo"?

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    1. Olá, Giovan Sehn Ferraz
      Agradeço pela colocação, é um ponto muito relevante que estamos persistindo em concluir. Nosso projeto tem essa finalidade, que é buscar pontos interessantes a serem discutidos em sala e Junto com os discentes e analisar. Assim, ensinando a serem críticos e criteriosos com o conteúdo encontrado nas mídias e redes sociais desta forma os ensinando a ser criteriosos com os conteúdos a serem buscados pela internet. Logo colocaremos em prática nossa tese, passando adiante esses questionamentos e provocando escolha criteriosa entre os assuntos abordados.

      Atenciosamente, Katiane Silva.

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    2. Prezado Giovan,

      Agradeço seu comentário e contribuição para nosso trabalho.
      Como venho afirmando, nos comentários acima, esse trabalho é o resultado inicial de um projeto em desenvolvimento. Há mais dois que estamos tocando paralelamente e, que também, perpassam as questões das mídias e redes sociais.
      Quanto a possibilidade prática de utilizar essa estratégia em sala de aula, ainda não temos uma resposta. Será o próximo passo. E posteriormente, iremos realizar oficinas com professores/as da rede básicas da nossa região, visando contribuir com esse debate e, também, colher contribuições para o nosso projeto.
      Agradeço demais essas indicações.
      Quanto a trabalhos que fazem uma análise do Brasil Paralelo, ainda não encontramos muitos. Há este texto do Fernando Nicolazzi (UFRGS) e alguns textos em anais e periódicos, mas mais voltados para a área das mídias do que da História.
      Minha opinião é que, precisamos analisar, descontrair e apresentar para o público acadêmico, mas principalmente, para um público geral, primeiro que essas narrativas são estórias e não histórias, e segundo, buscar levar o conhecimento histórico de forma prática.
      Muito obrigado!

      Abraço,

      Mauro Henrique Miranda de Alcântara

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    3. Prezados, desejo-lhes sucesso nessa caminhada! Vou acompanhar ansioso suas produções. Abraços!

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  5. Mauro e Katiane,

    fiquei bastante contente em ver o título deste texto na lista de comunicações. Faz algum tempo que vejo a Brasil Paralelo crescer e ocupar espaço no youtube. Ela, inegavelmente, é uma ameaça ao ensino de história significativo, metodologicamente coerente, e historiograficamente honesto. Entretanto, não percebo uma preocupação por parte da comunidade de historiadoras/es em responder à altura.

    Acredito que isso tenha se sucedido depois da finalização e submissão do texto, mas vocês acompanharam a campanha gigantesca deles nos últimos meses por meio de anúncios para angariar mais "membros patriotas"? (Até a escolha de termos é bastante ideológica, convenhamos) Acho curioso como eles se apoiam nas mesmas estratégias apelativas com certa frequência (o BP pode acabar, oferta por tempo limitado, conteúdo exclusivo).

    Enfim, tenho duas questões pontuais sobre essa série que vocês analisam em específico.

    De fato as fontes e referências bibliográficas não são apresentadas nem ao final dos vídeos?

    E, de que forma são apresentadas as figuras das mulheres e homens pretos? É interessante como o apresentador menciona não conhecermos nossos bisavós como um problema concernente à falta de conhecimento sobre história quando ao mesmo tempo estão tratando de um período em que tantas pessoas tiveram seu direito à ancestralidade tolhido pela escravização de seu povo e negação de sua história.

    Por fim, gostaria de agradecer por esta contribuição ao debate sobre - e, possivelmente, ao embate à - nefasta empresa.

    Letícia Costa Silva.

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  6. Olá Letícia!
    Agradecemos muito a leitura do texto e o seu comentário.
    A ideia é justamente essa: buscar, a partir de pesquisas e análises destas narrativas do Brasil Paralelo, desconstruí-los, pois não há aí História, e sim anedotas e estórias.
    Eu tenho acompanhando essa campanha, mesmo que não tão atento. Na verdade, a crise política que vivemos, a perda de popularidade do atual governo, o questionamento a esses movimentos que se dizem a partidários e contra ideologia, mas que na verdade, a única coisa que há nestes materiais é justamente princípios partidários e uma ideologia muito nítida, vem os fazendo a intensificar e massificar a campanha. Em minha opinião (e não uma análise ou investigação) parece um caminho do desespero, diante da derrocada (e tão rapidamente) do projeto deles, mediante ao questionamento científico nos direcionamentos políticos do atual governo. A ciência avançou, não somente no campo da saúde, mas também para outras perspectivas e, pode ser, que, ao menos, respingue nessa avanço dessa empresa (e de outras também) em sua perspectiva revisionista sem método, sem técnica, sem documento, portanto, sem História.

    Respondendo sua segunda questão, além de não conter referências bibliográficas e as fontes consultadas (se é que houvera consulta), eles, apenas, elencam os entrevistados. E ao elencá-los, coloca sua função, mas não a instituição na qual se formou ou é vinculado. Mas isso não é algo homogêneo, há um único caso que há institucionalização: Luiz Phillipe de O. Bragança está descrito como Cientista Político de Stanford. Contudo, ele professor de Stanford, somente fez um mestrado por lá. Há uma situação até pitoresca: ao mencionar o Dom Bertrand, eles colocam como descendente da família real.
    Acredito que esses fatos falam por si mesmo, quanto a péssima qualidade do material produzido.

    Mais uma vez agradeço muitíssimo sua contribuição a este debate.

    Abraço,

    Mauro Henrique Miranda de Alcântara

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