Josias José Freire Júnior


HISTÓRIA PÚBLICA DIGITAL EM PODCASTS DE HISTÓRIA




Este texto apresenta algumas considerações teóricas sobre podcasts de história a partir do campo da história pública e da história digital. Tais considerações fazem parte de um conjunto de reflexões desenvolvidas no âmbito de uma pesquisa de Iniciação Científica financiada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília.  Ademais, enquanto etapa inicial de pesquisa, as discussões ora propostas visam estruturar um referencial teórico metodológico em torno de aspectos teóricos e da função social do conhecimento Histórico produzido pelas mídias digitais em geral e, particularmente, podcasts.

Inicialmente, serão apresentadas algumas considerações acerca pelo campo da chamada História Pública que, a partir dos debates especialmente de sua vertente anglo-saxã, discutem a natureza, os contextos de produção e reprodução do conhecimento histórico em instância extra-acadêmica; tais como o conhecimento histórico produzido e disseminado por museus, instituições públicas e privadas, bem como pelas diferentes mídias. A História Pública, é pois, o campo da reflexão teórica e historiográfica que se dedica à problematizar saberes históricos destinados à audiências mais amplas, ao público em geral, sem se confundir com a divulgação científica, ao passo que incorpora regras metodológicas e pressupostos teóricos que orientam e dão validade científica aos saberes por ela produzido. Ademais, será do mesmo modo pontualmente considerada a vertente da história pública em âmbito digital.

Em seguida, serão desenvolvidas algumas considerações em torno dos debates da produção midiática do conhecimento histórico, especialmente pelas chamadas novas mídias, objeto de reflexões do recente campo da história digital. É, pois, a partir desse campo que se discutirá como se tem pensado a construção de histórias, bem como seu consumo, em ambientes digitais. A produção de saberes históricos mediados pelas tecnologias de comunicação e informação, seja em âmbito acadêmico, escolar ou público se tornaram uma questão que não pode ser ignorada contemporaneamente, especialmente tratando-se de uma debate acerca das possibilidades de se aprender e se ensinar história a partir de uma perspectiva que reconhece a produção do conhecimento como seu elemento central.

Por fim, serão desenvolvidas algumas reflexões sobre o podcast como mídia específicas, bem como serão encaminhadas algumas considerações finais em torno das possibilidades e dos desafios da compreensão da natureza e da dinâmica do conhecimento histórico em seus contextos contemporâneos.

A história pública é um campo de produção do conhecimento histórico que ganhou relativa autonomia e relevância nos debates teórico-historiográfico a partir dos anos 1970, especialmente no cenário anglo-saxão, para alguns de seus principais autores, a partir dos anos 1970 - consta que o termo história pública foi empregado primeiramente com a acepção de um campo específico da história em 1976, pelo historiador Richard Kelly [Lucchesi; Carvalho, 2016, p. 150].

Neste contexto, na Inglaterra dos anos 1970, “predominava a concepção de que seria possível democratizar e refletir sobre os usos políticos do passado no presente" [Almeida e Rovai, 2011, p. 08], o que contribuiu de maneira significativa com as reflexões sobre os usos sociais da história. Já nos EUA, anos 1980, “divulgação da ciência fora da academia, ampliando as visões sobre seu entendimento, sua metodologia e seus fins” [Almeida; Rovai, 2011, p. 08], privilegiando de igual modo especialidades do conhecimento histórico voltadas a públicos muito mais amplos que os tradicionalmente visados pela produção acadêmica.

A história pública elabora e busca compreender, pois, o significado de saberes históricos não necessariamente acadêmicos ou escolares, sejam os produzidos pelo e/ou para o Estado - nos monumentos, museus, efemérides - ou para produzir uma história para o mercado [Liddington, 2011, 31-32], uma história como produto cultural a ser consumido, na medida em que se reconhece que o sucesso de vendas de livros de história de caráter acadêmico além de raros, fazem parte de contextos muito específicos, respondendo a demanda de determinados públicos.

Esse campo se dedica, pois, a um tipo específico de "divulgação histórica" [Mauad; Almeida; Santhiago, 2016, p. 12], que se orienta a partir de procedimentos identificados à produção do conhecimento histórico, regulado metodicamente e em estreito diálogo com a produção acadêmica e escolar. Isso se expressa principalmente na exploração e apresentação, por parte da história pública, de um "conhecimento histórico – em uma variedade de formas – para além dos foros acadêmicos tradicionais” [Zahavi, 2011, p. 53].

São consideradas as "dimensões básicas" da produção do campo da história pública, ainda de acordo com Ricardo Santiago, a "história feita para o público", a "história feita com o público", a "história feita pelo público" e "história e público" (grifos do autor) [Santhiago, 2016, p. 28], isto é, uma história produzida para ampliação de audiências, construída em com a colaboração das mesmas, em formas "não institucionais" e que reflete sobre sua natureza e possibilidades [Santhiago, 2016, p. 28]. Trata-se, assim, no caso da história pública, de um amplo leque de possibilidades em torno de diferentes modos de se produzir, reproduzir e divulgar o conhecimento histórico em âmbito extra-acadêmico e extra-escolar.

Se por um lado a história escolar, a história pública e a história acadêmica se diferenciam por seus públicos, por seus meios e por seus referenciais, as três modalidades configuram formas racionais de se lidar com a experiência humana no tempo, compartilhando a racionalidade científica de alguns métodos, mas se utilizando de linguagens particulares.

Outro aspecto de grande relevância para o debate aqui proposto, acerca da história pública, é sua relação com a noção de escrita colaborativa da história. O tema do trabalho colaborativo, que se destaca tanto no campo da história pública [Santhiago, 2016, p. 28] quanto da história digital, remete também à questão da chamada "autoridade compartilhada" (crowdsourcing), entendida como "o recurso a uma espécie de saber comunitário, à participação pública na rede" [Noiret, 2015, p. 35], que deve ser reconhecido como "chave" para projetos "engajados na construção do conhecimento histórico descentrado da autoridade acadêmica" [Lucchesi, 2016, p. 159]. O tema da autoridade compartilhada é um dos mais importantes desafios teórico-metodológicos à produção do conhecimento histórico realizada pela história pública e pela história digital; trata-se de um importante avanço na discussão de novos atores na produção do conhecimento histórico.

O referido "descentramento" que caracteriza a produção da história pública, bem como sua organização em "rede", torna as reflexões desse campo bastante apropriadas para reflexões acerca da produção reprodução de saberes históricos em ambientes virtuais, mediados por tecnologias da informação e da comunicação, a partir dos quais a ênfase recai sobre as práticas e os usos associados a estes saberes, mais do que seus conteúdos. A dimensão da história pública inserida neste contexto é a que se estabelece a partir e no contexto dos mundos digitais, no campo que hoje é tratado como o da história digital, entendida aqui como uma vertente da história pública.

Por história digital entende-se se tratar da história que está “associada”, em sua origem “à análise e ao ensino da história a partir de documentos históricos disponibilizados na internet” [Lucchesi; Carvalho, 2016, p. 152]. Trata-se, pois, de um campo em estreita conexão com a produção de conhecimento associado ao que se chama de "novas mídias" e revolução informacional.  Daí a consideração de que o caráter digital está presente hoje não apenas nas pesquisas acadêmicas, mas também na história escolar [Tavares, 2012, p. 303] e também na história pública, ao passo que “essa história digital se torna "uma arena aberta de produção acadêmica e de comunicação, abrangendo o desenvolvimento de novos materiais de ensino e coleções de dados acadêmicos” [Cohen apud  Lucchesi e Carvalho, 2016, p. 152].

As relações da história digital e história pública são significativas e permitem falar hoje em um importante campo em constituição, o da história pública digital [Noriet, 2015 e Lucchesi, 2013], zona de convergência que tenta atrair os produtos que compartilham importantes pontos de convergência. Dentre tais pontos, indica-se o forte apelo à produção colaborativa, presente na história digital a partir da emergência da chamada Web 2.0 [Lucchessi, 2016, p. 158], além da centralidade do movimento de ampliação de audiência.

As discussões em torno da história pública digital possibilitam, atualmente, refletir sobre a produção de conhecimentos históricos com características específicas, com formas de apresentação próprias e voltadas para grupos específicos. Além de fazer frente aos conteúdos e meios a partir dos quais novos saberes históricos são produzidos contemporaneamente, entende-se que a história digital, especialmente se pautada pelo campo da História Pública, pode contribuir de maneira significativa com reflexões acerca da produção de conhecimento histórico, na medida em que for possível contextualizar os elementos da produção histórica teórico-metodologicamente orientadas, para os ambientes digitais e de comunicação para amplas audiências. Entende-se assim que sobreposição desses campos possa construir estruturas teóricas adequadas à produção de conhecimento histórico em diferentes contextos e a partir de diferentes linguagens. A linguagem audiovisual é há muito uma importante e incontornável possibilidade. Dentre suas múltiplas ferramentas, o podcast se distingue pela natureza de sua distribuição, abrindo considerável potencial de reflexão para o tema da produção do conhecimento histórico em ambiente extra-acadêmico e produzido e reproduzido digitalmente.

Os podcasts se popularizaram nos últimos anos como canais de disseminação de informação, notícias, entretenimento. O termo podcast faz referência ao canal que disponibiliza e aos próprios arquivo de áudio disponibilizados, copiados da internet e reproduzidos, mesmo offline, a partir de programas próprios. Seu conceito básico consiste na possibilidade de se descarregar automaticamente arquivos multimídias (áudio, vídeos, etc) em dispositivos nos quais seus usuários realizaram a assinatura de determinado canal [MOURA; CARVALHO, 2006], isto é, os podcast têm como principal característica seu processo de distribuição, o podcasting.

A assinatura de um podcast garante, pois, o descarregamento automático dos episódios do canal assinado, graças aos aplicativos e programadas de agregação, que utilizam tecnologia a RSS (Really Simple Syndication), de atualização automática. Inserido nessa rede de disseminação, o conteúdo registrado em um arquivo de áudio pode ser descarregado em dispositivos que possuem os aplicativos/programas agregadores, para serem reproduzidos a qualquer momento, independente de conexão com a internet, podendo também - pelo tamanho reduzido de arquivos de áudio - serem armazenados milhares de episódios diferentes até nos mais simples dispositivos.

A tecnologia de podcasting consiste, deste modo, na disseminação de arquivos, associados a canais e distribuídos pela rede mundial de computadores a partir de aplicativos que acessam tais canais e permitem o armazenamento e reprodução desses arquivos. O termo podcasting, do qual deriva a palavra "podcast", surgiu nos anos 2000 pela junção do nome de um popular dispositivo portátil de reprodução de mídias, o Ipod, e o termo em inglês broadcasting, que corresponde à "transmissão   pública   e   massiva   de informações"  [FLORES, 2014, p. 16].

A popularização dos podcasts está associada ao advento da chamada Web 2.0 [ALMEIDA, 2011, p. 14], na qual os usuários passam de meros consumidores para produtores de informações e a internet se transforma de repositório, isto é, grande arquivo de reprodução de informações produzidas em outro lugar, em um universo de produção de informações, em sua maior parte em ambientes colaborativos [BARCA, 2007, p. 838]. Dentre as principais características dessa nova Web está a atividade de seus usuários, bem como o caráter colaborativo da produção de seus conteúdos.

A alteração do estatuto de consumidor na Web 2.0 se explicita quando fala-se de podcasts. Além de se caracterizarem por uma "recepção assincrônica" [HERSCHMANN  e  KISCHINHEVSKY apud FLORES, 2014, p. 26], isto é, na qual produção e recepção não acontecem ao mesmo tempo, permitindo uma maior interatividade entre o consumidor e o produto - podendo se escutar o podcast qualquer momento, escolher partes, repetir trechos, etc. O receptor/consumidor do podcast deve também ser percebido como mais ativo do que o espectador das mídias tradicionais, haja vista sua maior margem de escolha na multiplicidade de programas e episódios disponíveis para serem consumidos.

Pelo menos dois aspectos diferenciam o podcast da transmissão de informações em áudio tradicionais, especialmente os tradicionais programas distribuídos via rádio. Primeiro, o meio de transmissão do podcasts, através do serviço de dados da internet, o torna independente e de maior alcance que as ondas de rádio, bem como a possibilidade de se armazenar vários e diferentes episódios, que poderão ser reproduzidos independemente de conexão com a internet, inclusive [PRIMO apud FLORES, 2014, p. 24]. Os canais, seus programas e cada arquivo de áudio de um podcast potencializa significativamente a liberdade e as formas de seu consumo em relação aos programas transmitidos via rádio.

Em segundo lugar, a multiplicidade de produtores e a simplificação dos processos produtivos, isto é, enquanto as transmissões de rádio exigem no mínimo equipamentos repetidos de ondas, os podcasts dependem exclusivamente do dispositivo de captação de áudio e da conexão à internet [FLORES, 2014, p. 22]. Isso torna a capacidade de disseminação de informações disponível ao podcasts muito maior do que das meios de comunicação tradicionais, especialmente rádio e TV. Basta apenas um celular conectado à internet, por exemplo, para que se crie um canal e uma infinidade de episódios de podcasts e os disponibilize nas redes para serem copiados e consumidos no mundo todo. Ao mesmo tempo, multiplicam-se as possibilidades de podcasts temáticos, cada um se dedicando a um determinado nicho de público, falando a determinada audiência - o que também é uma característica da chamada Web 2.0, o incremento substancial da possibilidade de escolhas particulariza cada vez mais a audiência, que por ter, potencialmente, acesso à produtos de todas as temáticas imagináveis, podem escolher aquilo que mais lhe interessa.

Dentre seus diferentes temas, possíveis uso e sua forte presença na cultura digital contemporânea, não poderiam faltar podcasts voltados à produção e divulgação de conhecimento histórico, o que os inscrevem certamente no âmbito da chamada história pública e da história digital.

Com base no que foi até agora apresentado sobre podcasts, e com base na no mapeamento que vem sendo produzido sobre podcasts de temas históricos, pode-se encaminhar algumas considerações sobre suas particularidade, dinâmica e possibilidades no âmbito de um tipo específico de história pública digital. Organizados em rede, de produção colaborativa e temas transversais, os podcasts abordam temas históricos a partir de uma dinâmica metodológica própria, associada ao processo produtivo do podcast, mas ainda distante das etapas críticas que caracterizam o conhecimento histórico acadêmico.

No que se refere à dimensão da história feita para o público, entende-se que ela está no centro da própria proposta do podcast: divulgar conteúdos históricos “abertos” (a quem tiver acesso à internet), da mesma forma que a ideia de uma história feita com o público, considerando que o feedback da audiência tem grande influência nos rumos dos produtos culturais digitais, cuja sobrevivência depende dos clicks, curtidas e compartilhamentos. Não menos importante, a dimensão autorreflexiva e colaborativa (história feita pelo público) indicam um importante debate no campo da história pública e da teoria da história, ao se referir ao campo da epistemologia da história pública, e suas diferenças e possíveis relações com a epistemologia da história acadêmica [LUCCHESI; CARVALHO, 2016, p. 152].

Em todo caso, a própria dinâmica dos processos produtivos digitais, especialmente a dependência do feedback da audiência e sua recepção ativa, que caracterizam os podcasts, contribuem com a profissionalização e o grau de seriedade e mesmo um forte compromisso metodológico destes produtos. Entretanto, não se pode deixar de considerar as particularidades de tais compromissos metodológicos, que talvez tenham seu principal elemento de diálogo com a produção histórica acadêmica e escolar, assim como em outras dimensões da história pública, na intersubjetividade e nos compromissos comunitários nos quais esses produtos estão inseridos. A compreensão dessa dimensão poderá se desenvolver com os avanços das pesquisas tanto sobre podcasts quanto sobre outros produtos midiáticos digitais que dialogam, produzem e reproduzem um conhecimento histórico tão específico quanto atual.

Referências
Dr. Josias José Freire Júnior é professor de História no Instituto Federal de Brasília [IFB].

ALMEIDA; ROVAI. (2011) "Apresentação". In: ALMEIDA, Juniele; ROVAI, Marta (Org.). Introdução À História Pública. São Paulo: Letra E Voz.

FLORES, Tábata. A nova mídia podcast: um estudo de caso do programa Matando Robôs Gigantes. Rio de Janeiro,UFRJ/ECO, Monografia de Conclusão do curso de jornalismo. 2014.

LIDDINGTON, Jill. (2011) "O Que É História Pública?" In: Almeida, Juniele R. De; Rovai, Marta G  (Org.). Introdução À História Pública. São Paulo: Letra E Voz.

LUCCHESI, Anita; CARVALHO, Bruno. (2016) "História Digital. Reflexões, Experiências E Perspectivas". In: Mauad, Ana Maria; Almeida, Juniele; Santhiago, Ricardo (Org).        História Pública No Brasil: Sentidos E Itinerários. São Paulo: Letra E Voz.

MAUAD, Ana Maria; Almeida, Juniele; Santhiago, Ricardo (Org). (2016) "História Pública No Brasil: Sentidos E Itinerários". São Paulo: Letra E Voz.

NOIRET, Serge. (2015) "História Pública Digital".  Liinc Em Revista. Rio De Janeiro, V.11, N.1, p. 28-51. Disponível Em Http://dx.doi.org/10.18225/Liinc.V11i1.79. Consultado Em 20/05/2019.

SANTHIAGO, Ricardo. (2016) "Duas Palavras, Muitos Significados: Alguns Comentários Sobre A História Pública No Brasil". In: Mauad, Ana Maria; Almeida, Juniele; Santhiago, Ricardo (Org). História Pública No Brasil: Sentidos E Itinerários. São Paulo: Letra E Voz.

TAVARES, Celia Cristina. (2012) História E Informática. In: Novos Domínios Da História. Cardoso, Ciro; Vainfas, Ronaldo (Org.). Rio De Janeiro: Elsevier.

ZAHAVI, Gerald. (2011) "Ensinando História Pública". In: Almeida, Juniele; Rovai, Marta (Org.). Introdução À História Pública. São Paulo: Letra E Voz.




8 comentários:

  1. "Se por um lado a história escolar, a história pública e a história acadêmica se diferenciam por seus públicos, por seus meios e por seus referenciais, as três modalidades configuram formas racionais de se lidar com a experiência humana no tempo, compartilhando a racionalidade científica de alguns métodos, mas se utilizando de linguagens particulares."

    Esse trecho ficou claro para mim, mas fiquei refletindo se a História pública também não está presente na escola. Como professora vejo muita da linguagem digital presente na construção do conhecimento histórico escolar, em especial, nos memes e podcasts. Estes são ao meu ver excelentes recursos de trabalho que colaboram na construção da história escolar.

    As linguagens aplicadas no conhecimento histórico escolar, acadêmico e no âmbito público são diferentes como afirmou o seu texto. Para você não existe um compartilhamento destes públicos nos três esferas?
    A linguagem do podcast pode se apropriar do ensino de História e ajudar a construir o conhecimento histórico escolar?

    CÍNTIA BEÑÁK DE ABREU

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  2. Olá, professora. Tudo bem?

    Obrigado por sua leitura e comentário!

    Estou totalmente de acordo com você. Acho que sim, a história pública está na sala de aula - do mesmo modo que também na produção acadêmica. E os exemplos que você menciona, dos podcasts e dos memes, são exemplos precisos desses conhecimentos históricos que aparecem na sala de aula, embora não estejam diretamente associados ao código disciplinar da História.

    Acho que estas três formas de se relacionar com o passado possuem nuances que as diferenciam - especialmente a história acadêmica e escolar, da história pública - mas que, sobretudo, estão significativamente vinculadas ao que o Jörn Rüsen chama de "vida prática".

    Como você caracterizou muito bem, as "linguagens" são fatores que diferenciam essas tipos de conhecimento. Eu poderia tentar caracterizar essas linguagens assim: uma ênfase na linguagem conceitual especializada na ciência; a relevância do caráter dialógico/construtivo da linguagem na sala de aula; a prevalência do aspecto "comunicacional" na linguagem da história pública. O que acha?

    E por isso, com certeza, a linguagem do podcast pode ser apropriada para o ensino de História. Tanto como meio de divulgação de conteúdos históricos, como possibilidade de lidarmos com os conceitos e categorias do pensamento histórico, tais como fontes e documentos históricos, testemunho, evidência. Acho também que aspectos técnicos e estéticos dos podcasts podem nos auxiliar a ensinar sobre a história, como as ideias de montagem, produção em rede, expressão/retórica, etc.

    Mais uma vez, obrigado pela suas considerações!


    Josias José Freire Júnior

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Boa Noite Josias!
    Acho demais o assunto e gostei da sua abordagem. Nos últimos tempos estive em contato com alguns leituras sobre a História Pública, e que desde então, me auxilia a pensar diversas formas de relação com a História. Acredito que essa teoria vem de encontro com a velha pergunta: Qual é o oficio do historiador. Como fala-se, a História Pública pode se manifestar em diversas formas, como o podcast. Porém percebo que ao pensarem nessas formas de tecnologia, normalmente as pessoas acabam menosprezando outras formas tradicionais de comunicação, e que na realidade, ainda tem uma grande gama de usuários. Meu comentário é mais uma instigação e dica. Já ouvi alguns muitos podcasts sobre História que achei fantásticos, mas quando coloquei para meu companheiro que é de outra área ouvir, ele entendeu apenas sobre o que a conversa falava, sem entender da construção do conhecimento que ali acontecia que tinha adorado tanto. Vi o comentário da professora anterior e percebi que também, pouco poderia usar estes podcasts que sei que são feitos por historiadores, porque adolescentes teriam bastante dificuldades. Por que esta dificuldade de conseguirmos falar a lingua das pessoas que não são da area? A ferramenta é boa, mas as vezes parece que não conseguimos utilizada da forma para atingir o público. Quão pública é a história produzida nestes meios? São questões sinceras, e se tiver algumas suposições, adoraria lê-los.
    A dica fica para conhecer o podcast Mais História, por favor, do PPGH da UFSM. Ele se encontra no Spotify. É uma dessas tentativas de tornar a história produzida na universidade mais pública.

    Enfim, ótimo trabalho, espero que tenham bons frutos e goste do podcast indicado.

    Nicole Angélica Schneider

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Olá, Nicole. Boa noite!*

    Agradeço pelos comentários. Vou procurar sim o podcast que recomendou. Achei suas considerações muito pertinentes.

    Penso que a linguagem especializada da história científica terá sempre uma espécie de núcleo em alguma medida inacessível aos não especialistas. A ciência é em geral bem sucedida em seus objetivos por ser bastante especializada, concorda?

    Isso acaba tornando a história pública bem instigante, pois ela se propõe o esforço permanente de tradução, de comunicação do conhecimento histórico. Por outro lado, a história pública também destaca que, por mais especializada que seja a linguagem do/a historiador/a, a ciência da história sempre parte da vida prática e, portanto, de carências de orientações inerentes à vida cotidiana.

    Uma das questões que temos percebido na pesquisa que estamos desenvolvendo sobre podcasts, é seu potencial de ensinar sobre a história não apenas no que se refere aos conteúdos ali (re)produzidos. Mas a possibilidade do processo de produção de podcasts nos ensinar um pouco sobre os processos de produção da História. Por exemplo, propor para estudantes que, para produzirem seus podcasts, seja necessário operar as categorias do "perguntar histórico", de hipótese, da fonte e do documento históricos, de testemunho. Pensar o processo de edição do áudio, ou de seleção de uma trilha sonora, com ideias de retórica e estética da produção historiográfica. Enfim, também pensar os estudantes mais como produtores do que consumidores de podcasts...

    Acredito que a questão do interesse de nossos estudantes pela história é uma questão especialmente crucial, não é? Acho que passa, entre outras coisas, pela conexão que essa história tem com a vida desses estudantes...

    Obrigado pelas considerações!

    Josias José Freire Júnior


    *Corrigi uma ambiguidade no texto do comentário!

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  7. Olá Josias,

    Tenho interesse pelo Podcast associado a outra metodologia, por isso estou visitando os texto com essa temática. Me interessa a discussão sobre o processo de produção do conhecimento histórico escolar.
    A partir da sua experiência, você pode destacar possíveis contribuições desse recurso (Podcast) no que se refere a uma aprendizagem significativa?

    Grata

    Adaiane Giovanni

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  8. Olá Adaiane. Tudo bem?

    Obrigado pela questão!

    Acho que o podcast pode contribuir com uma aprendizagem significativa em diferentes níveis. Atualmente me interesso mais por um deles.

    A produção de podcasts por estudantes pode explorar aspectos teórico-conceituais da História. Por exemplo, na pesquisa para produzir o podcast, discutir fontes e documentos históricos; pensar narrativa na construção do roteiro; discutir estética e retórica na edição da mídia... como mencionei na resposta acima... Enfim, acho que são algumas possibilidades.

    Há também de se considerar que a produção e mesmo o consumo de podcasts nas aulas de história pode contribuir com uma aula mais dinâmica, que ressalte o protagonismo do estudante e desperte mais interesse, pois está associado às novas mídias.

    O desenvolvimento de produtos audiovisuais por estudantes ainda enfrenta alguns obstáculos como proposta de atividade em sala de aula, principalmente a falta de estrutura e recursos. Entretanto, se for possível desenvolver esse tipo de proposta, utilizando por exemplo celulares, pode ser bem promissor.

    Mais uma vez, obrigado pela pergunta!


    Josias José Freire Júnior

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