Gabriella Bertrami Vieira


O ENSINO DE HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E RELIGIOSIDADES: POSSIBILIDADES A PARTIR DO CINEMA



A história das religiões e religiosidades é um campo de estudos consolidado no Brasil atualmente. Este, como outros, é permeado de embates e disputas, tanto teóricos e metodológicos, bem como políticos, sociais e culturais. No âmbito escolar, no que concerne à questão da maneira em que se trata do tema, ou ainda se este tema deveria ser tratado nas escolas a temática também gera debates. Com isso, este trabalho tem como objetivo refletir sobre a situação atual no âmbito do ensino de história das religiões e religiosidades, e ressaltar a importância da temática para o ensino de história, considerando que a problemática central deve estar nas formas de abordagem dos conteúdos, respeitando a diversidade e a liberdade religiosa; como também na aproximação entre o ensino de história das religiões e religiosidades e as pesquisas acadêmicas feitas sobre a temática, por meio do professor e da didatização do conteúdo. Consideramos assim, a história das religiões e religiosidades uma vertente importante na compreensão dos processos históricos, a qual, no âmbito do Ensino de História ainda carece de reflexão e amadurecimento.

Outro ponto abordado neste trabalho se constitui como uma possibilidade metodológica para o Ensino de História das Religiões e Religiosidades: a utilização do cinema na sala de aula. Sobre isso, abordaremos usos comuns da narrativa cinematográfica nas escolas e algumas de suas problemáticas, como também a possibilidade da utilização do documentário “Santo Forte” [1999], adentrando mais especificamente nas contribuições e cuidados da abordagem das fontes audiovisuais.

O ensino de história das religiões e religiosidades: algumas reflexões
Como primeiro aspecto a ser ressaltado sobre a temática, temos a questão da necessidade de diferenciação e redimensionamento entre Ensino de História das Religiões e Religiosidades e Ensino Religioso. O primeiro, comumente enquadrado como sinônimo do segundo, busca compreender o lugar da experiência religiosa, do comportamento humano com o sagrado, das crenças e novas mitologias, das instituições e manifestações religiosas no âmbito da sociedade, ou seja, nos processos históricos. Muitas questões, antigas ou atuais na história têm, entre suas matrizes explicativas, motivações de caráter religioso, e a compreensão destas remete a abordagens que tratem das construções religiosas destas sociedades a partir de aspectos da experiência e dos fenômenos religiosos. [Lia, 2012]. O Ensino Religioso, por sua vez, é pela Lei Nº 9394, de 1996, de matrículafacultativa e “assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo” [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996]. Apesar disso, a realidade que vemos nas escolas brasileiras é de um ensino voltado para reafirmar as experiências religiosas da maioria dos alunos, ou ainda, do professor. Como consequência disso Lia [2012] diz que:
“a existência de uma disciplina específica de “Religião”, que poderia ser muito proveitosa se ampliasse o diálogo entre as diferentes percepções religiosas e a sociedade, mas que funciona como a legitimação de uma determinada corrente, afasta ainda mais a inserção das novas pesquisas e abordagens sobre o tema”. [Lia, 2012, p.551]

Ou seja, para que de fato haja a compreensão das crenças e práticas religiosas presentes nas sociedades históricas e vivencias cotidianamente, precisamos de um ensino sobre religiões e religiosidades que não esteja no âmbito teológico, mas sim histórico, de compreensão. A fim de retificar a defesa do o ensino de história das religiões e religiosidades, Lia [2012] diz que “é necessário, para uma ampla compreensão histórica das diferentes sociedades, marcar o lugar da experiência religiosa, como o elemento que organiza e confere originalidade aos diversos grupos humanos”. [Lia, 2012, p.553].

Vemos que a historiografia brasileira vem se dedicando mais ao estudo das religiões e religiosidades nas últimas décadas, como uma tentativa de trazer novas dimensões da importância das manifestações religiosas para a compreensão da história, porém, no Ensino de História, essas questões ainda são marginais: A autora diz que:

“É possível identificar um lamentável afastamento entre o que vem sendo produzido pela academia e o que vem sendo ensinado nas salas de aula sobre o tema religião e religiosidades. O permanente abismo academia versus escola torna-se ainda mais sensível quando enfoca uma temática permanentemente abordada de forma dogmática. O papel das novas contribuições das pesquisas realizadas pelos historiadores precisa atingir a sala de aula, desde o ensino fundamental até o superior. Pois é através das novas abordagens que será possível redimensionar a importância do ensino da temática, para a compreensão das experiências históricas das diferentes sociedades.” [Lia, 2012, p.550]

Com isso, percebemos a importância de procurar vias teóricas e metodológicas que coloque em diálogo o conhecimento produzido pela academia sobre o assunto - o que engloba novas abordagens, metodologias, fontes e olhares – com o ensino e a didática da história. Para que, enfim, a história possa cumprir seu papel social de orientação e compreensão da vida prática, a partir das relações estabelecidas entre passado, presente e futuro. Sobre isso Barom e Cerri dizem que:

“Ao relocar o papel do historiador, da torre de marfim, isolado na academia, autolegitimado, a uma condição de cidadão comum, imerso na sociedade, com também interesses e carências, Rüsen então realiza um engate entre a produção do historiador e a satisfação de seus interesses, de sua época, de seu público alvo. O que sugere uma ligação direta entre o conhecimento histórico produzido cientificamente e a função de orientação que ele pode exercer em seu meio de circulação. Neste sentido, o conceito de consciência histórica acaba por redimensionar a Didática da História, porque pressupõe que todo ser humano conhece história e pratica algum tipo de atribuição de sentido ao tempo, sendo a ciência da história um deles, não o único modo possível ou aceitável. Assim, ensinar história não pode ser transmitir algo da ciência para o vulgo, mas um diálogo entre focos de produção de sentidos” [Barom; Cerri, 2012, p.1002]

Os autores ressaltam a importância de olhar para o posicionamento do conhecimento científico produzido na sociedade como potencialidade de orientação, e pensar na possibilidade de rearticular este com o pensamento histórico comum, presente na sociedade. Ou seja, o que Rüsen propõe, é “um novo ajustamento entre o sujeito/sociedade e o conhecimento científico”. [Barom; Cerri, 2012, p.1002].

Outro apontamento de Rüsen, apresentado por Barom e Cerri [2012] que poderia ser utilizado pelos historiadores como reflexão para as abordagens na sala de aula das religiões e religiosidades é a multiplicidade de narrativas históricas:

“A multiplicidade das histórias, junto a ideia de multiperspectividade da história, devem ser defendidas em virtude do ganho de conhecimento gerado, contudo, necessita-se de uma representação mental da unidade da experiência histórica, a se evitar o relativismo. Deve-se considerar que organizamos os fatos históricos em concepções, e junto disso defender a evidência empírica do passado, como forma de relação com a objetividade histórica. A percepção dos homens do passado, suas interpretações e compreensões da realidade, deve prevalecer, o que, de certa forma, impede-nos de simplesmente impor nossa compreensão sobre suas realidades. Como também, o valor da subjetividade humana na interpretação do passado deve ser reconhecido como ponto de partida, a se reivindicar o conhecimento do passado” [Barom; Cerri, 2012, p. 1001]
Ou seja, diversos sujeitos históricos produzem narrativas sobre a história, as quais se tornam à partir da pesquisa, da análise e de uma escrita da história, evidências históricas importantes. As fontes são essenciais para percebermos como as percepções e práticas foram construídas, evitando, assim, uma leitura unilateral, deslocada no tempo. Perceber as várias fontes e narrativas, por vezes contraditórias é colaborar com uma história e sociedade menos polarizadas e engessadas.

Juntamente à essas indicações, precisamos, como professores, exercitar e nos atentar a alguns cuidados, na abordagem das religiões e religiosidades no ambiente escolar. O primeiro deles diz respeito à trajetória religiosa do professor e dos alunos. É certo que todos nós somos construídos a partir de nossas memórias e experiências, e que as mesmas precisam se consideradas no ensino de história, porém, no aspecto da religiosidade, o professor historiador precisa lembrar que a história não tem como objetivo maior a constrói juízos de valores, mas oferece possibilidades de compreensão do outro e a apresentação de possíveis pontos de construção de sentidos diversos. Nenhuma manifestação religiosa pode ser considerada menos importante que outras no ensino de história das religiões e religiosidades.
Outro aspecto importante para esta área, é a necessidade de redimensionar a percepção de que a sociedade é totalmente secularizada. Precisamos da laicidade do Estado e da liberdade religiosa, claro, porém Lia [2012], diz que  a excessiva insistência na afirmação de que os indivíduos não se organizam mais através de suas percepções religiosas faz com que a temática das religiões e religiosidades, que norteiam ainda muito a existência humana e os grupos da sociedade, seja negligenciada. Para a autora, “as práticas religiosas conferem identidade aos grupos humanos, os indivíduos se reconhecem enquanto parte de um todo que crê em referências comuns” [Lia, 2012, p.555]. Estamos permeados em nosso comportamento, em valores e práticas sociais por ideias religiosas ou de base religiosa:

“Isto revela que os homens se organizam na crença e na descrença, religando suas regras na sua percepção de mundo. O importante é ter sempre a clareza que o estudo das religiosidades não constitui a particularidade de determinadas civilizações, mas o algo em comum que organizou e organiza as formas dos indivíduos se relacionarem e se identificarem enquanto grupo. O ensino de história das religiões também não deve buscar o que pode ser mais útil para os discentes.” [Lia, 2012, p.555]

Além disso, o docente precisa estar atento ao vocabulário específico dos estudos sobre religião, por meio da compreensão de conceitos e expressões da linguagem das vertentes religiosas as quais irá trabalhar. Um erro comum apontado por Lia [2012] é a homogeneização do vocabulário, uma espécie de tradução, que pode prejudicar a compreensão histórica das manifestações religiosas, pelo viés do que é de maior lógica para os alunos. [Lia, 2012].

Dito isso, cabe ressaltar que a grande contribuição do estudo das religiões e religiosidades está “em evidenciar as continuidades dos processos religiosos e nossos elos contemporâneos com as manifestações de fé das sociedades de outros períodos históricos.” [Lia, 2012, p.556] Além, claro, de promover a tolerância entre os diferentes grupos culturais, através da busca de abordagens que propicie um ensino voltado para a compreensão histórica do outro.

A narrativa cinematográfica no ensino de história das religiões e religiosidades: contribuições a partir do documentário “Santo Forte” [1999]
O uso do cinema no Ensino de História no Brasil não é uma novidade. Porém, as dificuldades em lidar com recursos de natureza audiovisual na sala de aula ainda são bastante visíveis. Podemos elencar uma série de motivações para isso, que vão desde a infraestrutura das escolas até à formação dos professores. Porém, gostaríamos de ressaltar uma questão central das dificuldades do uso do cinema na sala de aula: a metodologia. Traremos abaixo um documentário brasileiro como possível fonte geradora de debate e questionamentos sobre a religiosidade na sala de aula. Para tanto, antes de adentrarmos nas contribuições específicas que esta obra traz, detalharemos rapidamente, alguns cuidados e preparos teóricos e metodológicos apontados por Jairo Nascimento [2008]

Primeiramente, o docente deve ter assistido à obra. Parece obviedade, porém, a necessidade de um olhar crítico e de anotação de informações e impressões sobre a obra antes de ser levada até os alunos é fundamental e muitas vezes esquecida. O professor não precisa ser um especialista em cinema para fazê-lo, basta um levantamento de dados gerais que ajudem a situar a obra em seu contexto histórico – tanto de produção quanto o contexto histórico que representa. O planejamento das etapas da aula também é fundamental, inclusive pensando no tempo que possui para tal atividade. É preciso também deixar claro que todo filme ou documentário é um recorte, uma construção da realidade, que representa algo sobre a realidade no qual se insere. O autor Jairo Nascimento [2008], a partir de um relato de experiência, indica também que o professor pode pedir na aula anterior à atividade proposta, uma pesquisa sobre o contexto em que o filme está inserido ou representa, a fim de tentar fazer com que os alunos ao assistirem o filme façam ligações com a pesquisa prévia.

Levando isso em consideração, apresentaremos, um exemplo de como a narrativa cinematográfica, pode ser usada como fonte pertinente de estudo das religiosidades brasileira e crenças na sala de aula. Para tanto, trazemos o documentário brasileiro “Santo Forte”, gravado em 1997, com moradores de uma comunidade do Rio de Janeiro, que em entrevista falam sobre suas trajetórias religiosas e suas vivências com o sagrado.

No decorrer de “Santo Forte”, temos relatos que demonstram a pluralidade e o hibridismo presentes no campo religioso brasileiro. O documentário é feito pelo diretor Eduardo de Oliveira Coutinho, no período em que o Papa João Paulo II está em visita ao Brasil, mais especificamente no dia de sua ida ao Rio de Janeiro, para a celebração do II Encontro Mundial com as Famílias, em outubro de 1997. Esse evento católico reúne no Aterro do Flamengo milhões de pessoas e tem repercussões também entre os moradores da comunidade. Os quais, ao mesmo tempo que assistem a Missa Campal, que vem em sua maioria de uma tradição cristã, também falam sobre outras religiões, como a Umbanda e o Espiritismo e suas trajetórias religiosas particulares, que evocam, porém, a diversidade do campo religioso no Brasil.

Um dos pontos interessantes, percebidos no documentário, e que pode ser passível de análise, se dá no fato de que, ao longo das narrativas, quando se tem o questionamento por parte de Coutinho: “Você tem alguma religião? Qual?”, as personagens, em sua maioria respondem, primeiramente que são “Católicos Apostólicos Romanos”, e logo depois, citam que são espíritas. Então, o diretor, tendo algumas informações prévias de alguns personagens, os incita a falar mais, perguntando por exemplo: “Mas o seu lado espírita é o que? Umbanda? Candomblé?”. E então temos, na maioria das vezes, a resposta de que sim. Ou seja, por que não dizer que é Umbandista ou Candomblecista? Como o contexto de gravação influência nessas respostas? Qual o cenário religioso brasileiro no momento? O que a História das Religiões Afro-brasileiras pode nos ajudar a pensar? Como essas religiões dialogam?. Outros entrevistados ainda, respondem que “fazem visitas”, ou seja, veem em seu horizonte de pertencimento distintas religiões, que dialogam entre si. Dessa maneira, é interessante trabalhar com os alunos os processos históricos de hibridização cultural (Burke, 2003), que vão acontecendo ao longo da história de nosso país, desde o período colonial até hoje, isso pois os ajudaria a ir:

“identificando que a dinâmica religiosa gera uma rede de experiências, na qual as diferentes crenças recebem influências umas das outras. Nenhuma vertente religiosa é totalmente original e sem características de crenças anteriores ou contemporâneas a ela. As religiosidades constituem um grupo em constante processo de reelaboração, assimilando experiências anteriores, marcando semelhanças e constituindo originalidade”. [Lia, 2012, p.559]

Isso permitiria ao aluno uma possibilidade de compreensão da dinâmica das crenças que o cercam, o reconhecimento do outro dentro de sua cultura, dos hibridismos presentes e o entendimento do seu lugar como sujeito histórico inserido nessas trajetórias. O que é interessante trabalhar com os alunos a partir do documentário é que vivemos em um país extremamente diverso em todos o âmbitos, inclusive o religioso, e que aquela realidade filmada pode ser um exemplo de como as religiões e religiosidades são escolhas individuais, mas também fazem parte de uma tradição, do social e que muitos dos indivíduos muitas vezes buscam a experiência com o sagrado nas diversas manifestações religiosas existentes. E mais, que a compreensão dos fenômenos religiosos é mais ampla, complexa e histórica, e essencial, do que se costuma pensar.

Considerações Finais
À luz do exposto, este trabalho buscou evidenciar algumas contribuições do ensino de história das religiões e religiosidades. Bem como a possibilidade do uso do cinema, como fonte, geradora de debates profícuos na sala de aula, para a abordagem da temática das religiões e religiosidades. É no contato, através do documentário, e da compreensão através de debate embasado e de questões geradas pelos próprios alunos, que temos uma compreensão histórica das religiões, religiosidades e crenças, num sentido mais amplo

Percebemos com as considerações, que o aluno tem a possibilidade de perceber a existência de várias narrativas, as quais compõe a realidade histórica. Que o sagrado, muito mais do que tal ou qual manifestação religiosa, perpassa o cotidiano. O ensino de história das religiões e religiosidades precisa ser visto como uma vertente do conhecimento histórico que tem a potencialidade de reflexão sobre diversas temáticas sociais. É a partir do mesmo que ocorre a desconstrução de visões preconcebidas sobre questões contemporâneas e permite uma visão dos processos nos quais os fenômenos culturais estão inseridos. Bem como exercita a construção de uma abordagem mais tolerante das dinâmicas sociais e a identificação do indivíduo como sujeito que cria e recria as suas percepções sociais, trazendo o conhecimento histórico como ponto central dessa orientação. Ressaltamos também a necessidade da relação dialógica entre o discurso da ciência da história produzido nas universidades e os docentes e alunos da rede de ensino.

Referências
Gabriella Bertrami Vieira é mestranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Maringá [UEM].

BAROM, W. C. C.; CERRI, L. F. A teoria da História de Jörn Rüsen entre a Modernidade e a Pós-modernidade: uma contribuição didática da história. Educ. Real., Porto Alegre, v. 37, n. 3, p.991-1008, set./dez. 2012.
BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. São Leopoldo: Unisinos, 2003.
LDB – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm; Acesso em: Abril de 2020.
LIA, Cristine F. História das religiões e religiosidades: contribuições e novas abordagens. Aedos. N.11, vol. 4, set. 2012. p. 549-563.
NASCIMENTO, Jairo. C. Cinema e ensino de história: realidade escolar, propostas e práticas na sala de aula. Fênix. Vol. 5, ano V, n. 2. Abril/Maio/Junho de 2008.
SANTO FORTE, dirigido por Eduardo Coutinho. Rio Filme. 1999, 83 min.

6 comentários:

  1. Olá Gabriella,
    Seu trabalho é teoricamente muito sólido, mas senti falta de uma maior atenção ao ensino de história propriamente dito. Como inserir a sua proposta nos currículos escolares? Quais séries/anos? Com quais objetivos em cada um deles? Gostaria de saber mais sobre esses pontos.

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    1. Boa noite, professor José Maria! Obrigada pelas contribuições.
      Realmente há a dificuldade de inserção dessa discussão. Ainda há, ao meu ver, de ser debatida e repensada. A crítica que trago sobre o Ensino Religioso é justamente no sentido das religiões e religiosidades ficarem relegadas a este segmento, na área da educação. Porém, penso que, ao mesmo tempo que o debate precisa ser desenvolvido e mudanças feitas, podemos trabalhar com o que temos. No caso, proponho as discussões acima para as turmas de ensino médio, ou de cursos de extensão, ou ainda no nível do ensino superior. Os objetivos da discussão e da apresentação do documentário enquanto fonte geradora de discussões na sala de aula para pensar a história das religiões, seria de compreender e realizar reflexões sobre a cultura, diversidade religiosa e tolerância religiosa; bem como, ainda poderia estar inserida nas discussões sobre periferia, desigualdade social e, ainda, nas discussões sobre cultura afro-brasileira. Penso que há a necessidade do contato e compreensão do "outro", e a história das religiões e o cinema são fontes profícuas para fazê-lo.
      Abraço!
      Gabriella Bertrami Vieira

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  2. Boa noite, Gabriela! Parabéns pelo texto.
    Gostaria de propor uma reflexão: Levando em consideração que a sala de aula não é um campo independente, pois cada aluno inserido leva consigo um contexto histórico, social, familiar e provavelmente há um direcionamento religioso entre eles, como poderíamos abordar outras formas de religiões/religiosidades e realizar um debate a respeito da tolerância tendo em vista que esse já é um "campo ocupado"?

    Alexia Henning

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    1. Boa noite, Alexia! Obrigada pela reflexão. Os pontos que você trouxe são realmente muito importantes. A proposta é justamente essa: de pensar a sala de aula como um ambiente diverso culturalmente e utilizar justamente disso para colocar essas diferenças em diálogo. Penso que o Santo Forte seja um bom ponto gerador de debate, uma vez que o documentário traz várias experiências religiosas, traz exemplos de como as religiões dialogam entre si e são híbridas. Como o país é cultural e religiosamente diverso. Com o trabalho com a fonte documentária, acompanhado de explicações prévias, de contextualização e de proposição de outras atividades, como dinâmicas e debates sobre as próprias religiosidades dos alunos, penso ser possível criar esse diálogo de construção da tolerância e compreensão das crenças e práticas religiosas.
      Abraço,
      Gabriella Bertrami Vieira

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  3. Olá, Gabriella!
    Gostaria primeiramente de te parabenizar pelo texto. Gosto muito do doc. "Santo Forte" e das obras do Eduardo Coutinho, pois acredito no potencial do audiovisual na educação, no caso, da história das religiões e religiosidades.
    A partir do seu texto, surgiu-me uma indagação...seria interessante levar esse documentário pré-estabelecido temporalmente para poder refletir sobre o Brasil atual, com as questões que abarcam a eleição de 2018, os casos de intolerância religiosa ou a religiosidade frente ao COVID19? Outra, gostaria de saber se essa sua proposta foi aplicada e caso afirmativo, como foi a recepção da turma, escola ou pais dos estudantes?


    Mateus Delalibera

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    1. Boa noite, Mateus!
      Primeiramente muito obrigada pelas reflexões. Fico muito contente que conheça o trabalho do Coutinho. Acho realmente fantástico pro âmbito da Educação. Penso que seria muito interessante sim! Até porque Santo Forte traz reflexões sobre a vivência com o sagrado como algo muito forte frente às angustias do mundo, a dura realidade, as enfermidades. Os casos de intolerância religiosa acontecem muito no Brasil atual, principalmente com relação às religiões afro-brasileiras. Seria interessantíssimo trabalhar história do tempo presente com Santo Forte pois o documentário, da década de 1990, de certa forma, demonstra o início de processos os quais os resultados colhemos atualmente, principalmente no âmbito político, mas também no âmbito cultural e de intolerância.
      Quanto à segunda pergunta: ainda não tive a oportunidade de aplicar no Ensino Médio, como gostaria. Porém, já trabalhei com o documentário no âmbito da Universidade Estadual de Maringá (UEM) em palestras, eventos de extensão e com graduandos de história durante um estágio. Nesse espaço a recepção foi ótima. Percebe-se um olhar mais sensível, a partir do que o documentário traz. Porém, acredito que no ambiente escolar enfrentaria alguns desafios (o que estou super disposta), até entenderem que não se trata de proselitismo, mas sim de compreensão da própria cultura, realidade e da pluralidade contida na mesma. É sempre difícil falar sobre História das Religiões e Religiosidades sem ser confundido ou repreendido, porém, seguimos tentando.

      Abraço,
      Gabriella Bertrami Vieira

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